Islão e democracia
Em sociedades em que a religião é obrigatória o condicionamento da opinião pública começa na infância pela manipulação das crianças e pela fanatização que conduz ao martírio e ao crime.
O Islão de hoje não é diferente do catolicismo medieval mas este, graças à descoberta da cultura helénica e do direito romano, encontrou forças para usar a razão e contestar a fé, para fazer a Reforma e retirar ao Papa o poder temporal.
O direito divino, como origem do poder, foi substituído pela legitimidade democrática e a secularização tornou as sociedades abertas, tolerantes e plurais. A fé foi remetida para esfera privada e as convulsões surgem quando os crentes pretendem fazer proselitismo através do aparelho de Estado.
Hoje, é o protestantismo evangélico que lidera o fundamentalismo cristão nos EUA, em clara violação da Constituição e da vontade dos seus fundadores. A Igreja Ortodoxa tem dificuldade em aceitar a separação do Estado e tem uma exegese de pendor francamente reaccionário.
Mas é no Islão que constrangimentos sociais e a violência clerical empurrem os crentes para a irracionalidade da fé e a aceitação acrítica do Corão. Como há muito desistiram de questionar o que o clero diz que o Profeta disse e quer, há um permanente conflito com a modernidade e uma violência incompatível com a civilização.
A laicidade que libertou o Ocidente da tutela clerical é impensável onde o clero tem o poder absoluto no campo económico, político, militar, assistencial e ideológico.
Tal como durante a inquisição era impossível contestar a autoridade do Papa e o seu poder, também nas teocracias islâmicas é impossível discutir a desigualdade da mulher, o adultério, a poligamia, o repúdio, a guerra santa, a homofobia e o pluralismo.
As religiões são, por natureza, totalitárias e avessas à modernidade. Ao atribuírem aos livros sagrados a vontade literal de Deus, ditada a um eleito como versão definitiva, impedem a discussão e ameaçam a vida do réprobo enquanto a separação entre a Igreja e o Estado não se afirmar.
É esse passo que parece estar cada vez mais distante nas teocracias islâmicas e que propicia o confronto entre a fé e a modernidade.
Contrariamente ao que têm afirmado os bispos católicos os árabes não temem a liberdade religiosa que, segundo sondagens, é o que mais apreciam no Ocidente. São os clérigos que se assustam com a possibilidade de verem os crentes a renunciar à fé.
A liberdade, a democracia e, sobretudo, a perda de direitos sobre a mulher, assusta-os. É por isso que não renunciam à sharia, que não dispensam uma boa decapitação de um apóstata, uma alegre lapidação à mulher adúltera e uma divertida amputação para quem roube.
O que está em curso é uma luta desesperada contra a modernidade por uma civilização falhada.
Nota: A publicar no Diário Ateísta.
O Islão de hoje não é diferente do catolicismo medieval mas este, graças à descoberta da cultura helénica e do direito romano, encontrou forças para usar a razão e contestar a fé, para fazer a Reforma e retirar ao Papa o poder temporal.
O direito divino, como origem do poder, foi substituído pela legitimidade democrática e a secularização tornou as sociedades abertas, tolerantes e plurais. A fé foi remetida para esfera privada e as convulsões surgem quando os crentes pretendem fazer proselitismo através do aparelho de Estado.
Hoje, é o protestantismo evangélico que lidera o fundamentalismo cristão nos EUA, em clara violação da Constituição e da vontade dos seus fundadores. A Igreja Ortodoxa tem dificuldade em aceitar a separação do Estado e tem uma exegese de pendor francamente reaccionário.
Mas é no Islão que constrangimentos sociais e a violência clerical empurrem os crentes para a irracionalidade da fé e a aceitação acrítica do Corão. Como há muito desistiram de questionar o que o clero diz que o Profeta disse e quer, há um permanente conflito com a modernidade e uma violência incompatível com a civilização.
A laicidade que libertou o Ocidente da tutela clerical é impensável onde o clero tem o poder absoluto no campo económico, político, militar, assistencial e ideológico.
Tal como durante a inquisição era impossível contestar a autoridade do Papa e o seu poder, também nas teocracias islâmicas é impossível discutir a desigualdade da mulher, o adultério, a poligamia, o repúdio, a guerra santa, a homofobia e o pluralismo.
As religiões são, por natureza, totalitárias e avessas à modernidade. Ao atribuírem aos livros sagrados a vontade literal de Deus, ditada a um eleito como versão definitiva, impedem a discussão e ameaçam a vida do réprobo enquanto a separação entre a Igreja e o Estado não se afirmar.
É esse passo que parece estar cada vez mais distante nas teocracias islâmicas e que propicia o confronto entre a fé e a modernidade.
Contrariamente ao que têm afirmado os bispos católicos os árabes não temem a liberdade religiosa que, segundo sondagens, é o que mais apreciam no Ocidente. São os clérigos que se assustam com a possibilidade de verem os crentes a renunciar à fé.
A liberdade, a democracia e, sobretudo, a perda de direitos sobre a mulher, assusta-os. É por isso que não renunciam à sharia, que não dispensam uma boa decapitação de um apóstata, uma alegre lapidação à mulher adúltera e uma divertida amputação para quem roube.
O que está em curso é uma luta desesperada contra a modernidade por uma civilização falhada.
Nota: A publicar no Diário Ateísta.
Comentários
Ou uma civilização acantonada no desespero que luta pela sobrevivência.
Ou uma civilização empurrada para a marginalidade da história.
Ou ...
Várias asserções são possíveis.
O Islão falhou mesmo. É um plágio grosseiro do cristianismo sem a cultura grega e o direito romano.
Não há iluminismo nem Reforma. Há um retrocesso em curso. Averroes e Avicena não conseguiram, há um milénio, a modernidade que parecia estar a caminho.
Depois disso é uma história de tribalismo e rivalidades étnicas com guerras entre o sunismo e o xiismo.
Claro!
Mas isso são as causas remotas e profundas do declínio do "Mundo Islâmico".
O que referi diz respeito à caracterização instântanea (fotográfica)da situação actual que, em minha opinião, não se resume a "uma luta desesperada contra a modernidade". Há mais abordagens possíveis.
Isto é, comentei só aquilo que está referido, no post, como " "O que está em curso ...."
Ainda vamos assistir ao nascimento de uma história de compadrio das ideias...