Notas Soltas - Setembro/2006

Independente – Nasceu na sarjeta e acabou no pântano o semanário criado para promover Portas e arruinar Cavaco. Ironicamente finou-se com Cavaco na presidência e Portas a rastejar no deserto.

Inglaterra – Blair foi o melhor primeiro-ministro inglês das últimas décadas mas a cumplicidade com Bush e a derrota política e moral no Iraque denegriram a imagem de quem tem por adversários os conservadores e como inimigos os trabalhistas.

Marcelo – A presença semanal, na RTP-1, do antigo presidente do PSD e futuro candidato a PR ou a primeiro-ministro é eticamente reprovável. Não se sabe onde acaba a militância partidária e a promoção pessoal.

Voos da CIA – O combate ao terrorismo é uma tarefa inadiável na defesa dos países livres mas as prisões ilegais e torturas ferem direitos cujo respeito definem os países democráticos.

Apito Dourado – Afastados os investigadores iniciais, o poder dos suspeitos e um parecer jurídico converteram o terrível processo em mero assobio de pau dos que na infância de outros tempos se compravam nas feiras e mercados.

Venezuela – O anúncio de um referendo em 2010 sobre «a possibilidade de um Presidente ser reeleito indefinidamente», transforma Hugo Chavez, livremente eleito, num biltre populista. Os homens providenciais são um exclusivo da direita.

EXPRESSO – Na iminência do advento de o «Sol» o semanário de Balsemão apareceu, no preço e no formato, em quarto minguante. Permanece globalmente liberal, de direita moderada, institucional e inevitável.

Irão – A esquerda que aceita teocracias na luta contra o capitalismo repete o erro dos comunistas que apoiaram o regresso do ayatollah Khomeini que, logo, os mandou decapitar.

11 de Setembro – Há 33 anos, no Chile, um golpe de Estado brutal deu início à sangrenta ditadura de Augusto Pinochet. Há cinco anos o fanatismo islâmico abateu-se cruelmente sobre as torres gémeas de Nova Iorque. Trágicas efemérides.

Líbano – A paz assegurada pela ONU corre o risco de ser precária e não passar de um interregno na guerra que se iniciou à distância, com a Síria de permeio, entre Israel e o Irão, com aliados poderosos nos dois lados.

Timor – A imprudência de Xanana, a cobiça da Austrália e a ambição da Igreja católica conjugaram-se para que a violência se perpetue e o País se torne ingovernável.

Pacto da Justiça – Teve êxito o consenso entre o PS e o PSD, sucesso difícil de repetir noutras áreas onde os princípios ideológicos e os interesses do País devem passar pela ruptura.

SOL – Não foi a estrela que se anunciava, é outro satélite da direita a disputar um espaço saturado. Como nos meteoros foi intensa a luz da aparição e pode ser breve o ocaso deste novo semanário que os bancos apadrinharam.

Bento XVI – Condenou caricaturas em nome dos sentimentos religiosos do Islão e acabou ameaçado, após um discurso, por injúrias a Maomé. Devia ter defendido a liberdade de expressão em vez do vago respeito pela fé – um incentivo à censura.

Desfiles da moda – A Espanha foi o primeiro país a proibir jovens anorécticas. Os modelos não são cabides para dependurar roupa, são corpos que dão vida aos trapos sem precisarem deles.

PGR – Pinto Monteiro foi boa escolha. Era preferível um não magistrado mas o juiz nascido em Porto de Ovelha tem uma carreira notável e goza de prestígio. Talvez se venha a saber quem perseguiu Ferro Rodrigues e pôs o País sob escuta.

Taxas moderadoras – A estreita margem entre saúde «tendencialmente gratuita» e o desvirtuamento da Constituição não permite as ameaças que pairam sobre os utentes nem se compreende que partam de um ministro do PS.

Cavaco Silva – As pressões sobre o Governo comprometem a independência do cargo, desvalorizam a liderança do PSD e enredam a Presidência nas vicissitudes do poder executivo. A serem verdadeiras constituem um precedente infeliz.

ETA – Este grupo terrorista reiterou a intenção de prosseguir a violência. É mau sinal para a paz e um convite à repressão policial contra os que semearam a dor e o luto em milhares de famílias espanholas.

STJ – A eleição de quem foi relevante na escolha de eleitores não valoriza o cargo da quarta figura do Estado e, ao anunciar o confronto político, Noronha do Nascimento troca o respeito que lhe é devido pelo conflito que o sindicalista procura.

Comentários

Anónimo disse…
Porto, 2006.09.30

"NOTAS SOLTAS"

Comentários muito a propósito sobre temas actuais e difíceis. Duma maneira geral, concordo com todos eles, porque revelam conhecimento das matérias e parecem-me isentos.
JS
Anónimo disse…
O Sol é um cometa que nada acrescentou à ordem do universo. Andará por aí a vaguear durante 6 meses, um ano, dependendo do fundo de maneio...
Anónimo disse…
Sobre o 11 de Setembro, um dia viremos a saber o que por aí anda embrulhado. Quando já não for indispensável, sabe-lo-emos. À maneira da civilizada América.

A ETA vai esforçar-se por dar argumentos ao passadismo castelhano. Custa a meter na cabeça, mas é.
Anónimo disse…
A presença do António Vitorino, às 2ªs feiras, na RTP1, não foi considerada?

O homem, coitado, deve passar despercebido.
Anónimo disse…
Anonymous Sáb Set 30, 03:43:35 PM:

António Vitorino recusa lugares, Marcelo procura-os.

António Vitorino serviu de pretexto para Barroso (do bando dos 4, dos Açores) chegar onde chegou.

A.V. nunca foi secretário-geral do PS, Marcelo foi presidente do PSD.

Não acuso Pacheco Pereira que gosto de ouvir. Há diferenças a considerar.
Anónimo disse…
Marcelo e A.Vitorino teem o mesmo papel na RTP1, ambos defendem a sua dama...ambos procuram promoção pessoal.

Caro, Carlos Esperança, não esqueça, estamos na selva...
Anónimo disse…
Não me esqueço do que o Palerma do carlos Esperança disse do SOL!
Estamos cá para ver...
Anónimo disse…
António Vitorino e Marcelo Rebelo de Sousa são duas aberrações da TV.
Neste momento, vivemos o retrato implícito da consagração do tal "direito do contraditório", invocado no governo de Santana Lopes, para o controlar e depois, camufladamente, expulsá-lo da TVI.

Estou de acordo - acho indispensável - que as televisões produzam programas de análise política.
Só que estes devem ser feitos por comentadores profissionais. Não por dirigentes partidários ou ex-dirigentes partidários que, sabemos todos, não renegaram projectos políticos pessoais.
A saída do A. Vitorino (outra vez!) para funções europeias deveria criar a oportunidade para repensar esta questão.
Isto é, se a televisão, enquanto serviço público, continuar a "promover" personagens, professores, ex-dirigentes partidários, ex-comissários europeus, enfim, "homens dos 7 ofícios" e para "todo o serviço", nunca teremos comentadores profissionais da política.
E não "comentadores políticos".

Isto é, técnicos de comunicação social que, idependentemente do seu posicionamento político e/ou partidário (que tem de ser plural), sejam homens ou mulheres capazes de produzir uma análise política despida dos interesses imediatos, a médio ou a longo prazo da luta política, neste País.
Estas situações não podem viver num clima em que o "conflito de interesses" não seja, para além de visível, transparente.

Não sendo assim, continuaremos a viver no amadorismo. Na improvisação. E, o que é mais grave, na suspeita da manipulação.
Por maiores audiências que garantam...

Mas estas situações podem não ser tão ingénuas. E ser, tão somente, compromissos ocultos do "centrão".
Anónimo disse…
E-pá, plenamente d'acordo consigo.

Os comentadores políticos deviam ser jornalistas, nunca gente dos partidos, estes teem sempre uma visão tendênciosa da coisa.
Anónimo disse…
Ó Esperança, andas a apanhar com muito SOL na pinha...

Ó homem, o jornal é bem feito e vai singrar.

Ainda agora começou, não traz DVD e já vai nos 200.000!
Lembras-te de algum caso semlhante em Portugal, nos últimos 40 anos?
Anónimo disse…
"António Vitorino recusa lugares (...)" - principalmente se sabe de antemão que vai queimar-se...

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