Jaime Neves – general de caserna

A promoção do cor. Jaime Neves a oficial-general, 28 anos depois da reforma e sem nunca ter mostrado aptidão ou desempenhado funções a esse nível, revela a imensa vontade que a direita tem de reescrever a história e ajustar contas com o 25 de Abril.

Há factos que ajudam a compreender o atropelo e a obsessão de falsificar a história.

Jaime Neves foi um militar que se distinguiu em África pela valentia e crueldade com que combateu os guerrilheiros dos movimentos de libertação das colónias.

Entrou no 25 de Abril, por engano, com grande fascínio por um general fascista, Kaulza de Arriaga, e não se lhe conheceu êxito nas missões que lhe foram confiadas na Revolução – a prisão de individualidades importantes do regime fascista.

As convulsões internas do processo revolucionário conduziram ao 25 de Novembro onde, sob as ordens do general Costa Gomes, coube ao Governador Militar de Lisboa, general Vasco Lourenço, a defesa das posições consideradas maioritárias no seio do MFA e defendidas pelo Grupo dos 9.

Foi um oficial da confiança de Vasco Lourenço, Ramalho Eanes, que executou no terreno o plano delineada pelo Governo Militar de Lisboa, coadjuvado pelo tenente-coronel Jaime Neves cujo êxito levou à sua promoção a coronel, tendo Ramalho Eanes sido promovido a general por forte pressão de Vasco Lourenço, dentro do Conselho da Revolução.

Passados e trinta e cinco anos, o CEMGFA é o general Valença Pinto, o único n.º 1 dos cursos da Academia Militar do seu ano de ingresso que não quis comprometer-se com a Revolução; o general Ramalho Eanes, com o estatuto de ex-PR, está cada vez mais encostado à direita; o ministro da Defesa não tem memória, desejo ou autoridade para se opor; o presidente da República nunca sentiu necessidade de se manifestar contra a ditadura e, quando primeiro-ministro, negou a Salgueiro Maia a pensão que concedeu a um ex-inspector da PIDE.

É neste cenário, com gente ingrata e sem memória, que se comete a injustiça, se afronta quem libertou Portugal e se deturpa a História pela mão dos que detêm o poder. Felizmente não detêm a verdade nem a razão.

Recordo dezenas de heróis, alguns desaparecidos, e sinto que é a eles, só a eles, que devo a liberdade para publicar este doloroso desabafo e a vergonha que sentiria se me calasse perante a injustiça de que são vítimas.

Não conto com os cúmplices da insólita promoção de Jaime Neves para enaltecer aqueles a quem devemos a democracia, mas conto com o exemplo dos que fizeram a Revolução para exaltar a liberdade e celebrar Abril.
Ponte Europa / SORUMBÁTICO

Comentários

e-pá! disse…
JAIME NEVES
Mais um eloquente caso de inculcação histórica.


A "promoção" do ex-coronel Jaime Neves, a "intromissão" do ditador Oliveira Salazar nas comemorações do 25 de Abril de Santa Comba Dão, a "canonização" do beato Nuno, são diverasas faces da mesma moeda...

As forças reaccionárias e obscurantistas esperam o tempo que for preciso, até surgir a oportunidade para, "torcer", "espremer" e (re)escrever a História. Oportunidade que não poupam...

Qualquer força retrógada, imobilista, que sobrevive remando contra os ventos da História - desde a trauliteira à mais erudita - tem este secreto e oculto desígnio.

Em, Coimbra, pretensa e pretenciosa cidade da Ciência, da Sáude, da Cultura, do Metro, etc, mas na realidade estagnada no tempo, tem uma Univesidade (logo uma sede de um saber universal) que remonta aos tempos medievos.

Quando visitamos a Sala dos Capelos vemos como é possível "inculcar" a história.
Esta sala reservada para os grandes Actos da Universidade, começou a ser construída em 1639, ainda Filipe IV de Espanha (III de Portugal), reinava por cá.

Esta majestosa sala tem uma extensa galeria dos Reis de Portugal.
Não consta lá nenhum dos Filipes.
Um exemplo de como uma instituição dedicada ao Saber caíu na tentação da inculcação histórica.

As forças retrógadas e imobilistas - que sempre existiram ao longo do nosso percurso histórico português, apesar do Iluminismo - desejam (sonham) exercer um direito que julgam inalienável: fazer entrar ou excluir da História, quem lhe aprouver. "Assaltaram" a história.
Em termos policiais, actuais, seria um acto de historyjacking...

Jaime Ramos, é o último passo de inculcação histórica do movimento 25 de Abril, quando homens como Salgueiro Maia e Melo Antunes, só para citar 2 dos muitos, da lei da morte se libertaram...
como coronéis!

E, ao que se sabe, urinavam como todos os demais homens do 25 de Abril: - isto é, de pé... e não transidos de mêdo, pelas pernas abaixo!
andrepereira disse…
Cavaco Silva tem que pagar a quem o elegeu. A tensão está aí, embora camuflada com sorrisos e cartazes com fundo negro envoltos em laranja turvo
e-pá! disse…
Segundo notícias de hoje, Otelo foi promovido a coronel. Justíssima, já que sendo um dos mais relevantes militares de Abril tinha sido gravemente prejudicado na sua carreira militar, por tal facto.
Mas o que se retira destes factos é que começaram as manobras de "branqueamento" da promoção de Jaime Neves.
Todavia, nada consegue apagar esta despropositada cedência à Direita.

Há uma coisa que os políticos nunca devem fazer. Considerar os cidadãos burros...
Mano 69 disse…
Tinha a ideia de que o Otelo tinha pertencido a uma associação na recomendável, mas se calhar foi ideia minha...
e-pá! disse…
Mano 69:

Otelo foi preso, julgado, condenado e, em 1996, amnistiado pela AR.
Portanto, é um homem livre em pleno exercício dos seus direitos.
Quantos "bombistas" do MIRN e do ELP se sentaram no banco dos réus?
Lembra-se de algum?
Mano 69 disse…
Comparações e/ou inferências, tinha-o em melhor conta.
Estamos a falar de Otelo e do que ele fez com o FP, não do que ele foi para o 25/04.
e-pá! disse…
Mano 69:

Otelo entrosou-se nas FP's numa atitude de revolta e rejeição (violenta não vamos iludir os factos) em relação aos caminhos que o 25 de Abril tomou e que lhe trouxeram uma destruidora frustação enquanto promotor da libertação. As FP's existiram porque houve o 25 de Abril. São indissociáveis.
Esta a inferência.

Outra, será a inevitável comparação a fazer:
o tenente-coronel Otelo terá a dignidade bastante para, linearmente, recusar esta abstrusa e extemporânea promoção.
O seu processo de promoção esteve há aalguns anos no gabinete de Paulo Portas (então ministro da Defesa).
Foi sumariamente indeferido.
Nunca aceitará, neste momento, ser moeda de troca com Jaime Neves.
A esta comparação soma-se uma incomensurável diferença.
Todos camaradas, todos diferentes.
Mano 69 disse…
Pode ser que ele aceite o dinheiro e depois o distribua pelas famílias das pessoas que morreram nos atentados da FP25...
Era uma excelente moeda de... compensação! Livrava-se dos activos compensatórios e mostrava ter comando (Mama Sume) do que quer na vida.
Unknown disse…
Qyuando falarem de JAIME NEVES, ponham-se em sentido!

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