A agressão a Berlusconi

A condenação de um acto bárbaro, gratuito e intolerável não admite evasivas. Repudiar a grotesca agressão de que foi vítima o primeiro-ministro italiano é um dever perante os silêncios sonsos e o gozo obsceno de muitos. A luta política não consente arruaças e pancadaria como métodos que se substituam ao debate de ideias.

As tensões sociais e a espessura da crise não podem ser agravadas com a displicência com que alguns encaram estes actos marginais, felizes por terem atingido quem já deu sobejas provas de não merecer o lugar que ocupa e de envergonhar as instituições do seu país.

Independentemente do lugar e da vítima, a agressão a dirigentes políticos tem uma carga mediática e um poder mimético capazes de atraírem novos incidentes e de promoverem a instabilidade em outros países.

Dito isto, e repudiado sem reservas o acontecimento, há ilações políticas a tirar. Para já não podemos impedir que diversas forças, quiçá de sinal contrário, se aproveitem do caso. Há, aliás, franjas políticas que têm como único programa a destabilização das instituições democráticas.

Este infeliz acontecimento travou o amplo movimento anti-Berlusconi cuja organização estava em marcha, bem demonstrada no "No Berlusconi Day" que poderia ser o embrião de uma vasta coligação democrática de esquerda, muito mais ampla do que os partidos que a sustentam, capaz de arredar do poder a direita populista e fascizante que governa a Itália e envergonha a Europa.

Transformar em vítima o mais desqualificado dirigente europeu foi um serviço prestado à direita italiana, capaz de impedir a alternância de que carece o Estado italiano, com o país desconfiado de uma esquerda a quem deve benefícios sociais mas incapaz de levar a estabilidade ao país que mais governos conheceu depois da Segunda Guerra.

Ponte Europa / Sorumbático

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