Cavaco, PS e oposição
Na sequência da promulgação do diploma que suspende a entrada em vigor do Código Contributivo, o PS criticou o PR e acusou-o de alinhar com a oposição. Penso que o PR não merece a acusação, embora tenha sido uma temeridade suspender um diploma saído de laboriosas negociações e de difíceis compromissos em sede de Concertação Social.
Não teve dúvidas em promulgá-lo e nem sequer suscitou a fiscalização preventiva da sua constitucionalidade. As receitas para a Segurança Social foram postas em causa e os partidos à esquerda do PS talvez venham a verificar que votar ao lado da direita não é a melhor forma de defenderem os trabalhadores de cujo monopólio se arrogam.
Não foi o PR que alinhou com a oposição, foi esta que alinhou com o PR. Há muito que Cavaco é o rosto mais credível da oposição de direita e se não fossem os 357 mil euros de mais valias com que arredondou os quatro salários (PR e as reformas de professor, do Banco de Portugal e de primeiro-ministro) com as 255.018 acções da Sociedade Lusa de Negócios, dele e da filha, teria hoje uma imagem mais consistente.
O caso das escutas não foi obra de Manuela Ferreira Leite, a quem não se reconhece inteligência para a façanha nem relações privilegiadas com Fernando Lima. O único suficientemente sagaz e maldoso era Paulo Portas mas Cavaco não esquece as pulhices do Independente.
O Estatuto dos Açores tinha merecido uma votação unânime, embora infeliz, mas o PR privilegiou os ataques à AR e ao PS. Na lei do divórcio fez a síntese do pensamento da Conferência Episcopal e da direita mais jurássica.
Cavaco já provou ser um homem determinado e capaz de correr riscos. Ao presidir à comissão de honra da canonização de Nuno Álvares Pereira, certificou dessa forma o milagre da cura do olho esquerdo de D. Guilhermina, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe, e inseriu-se na galeria de bem-aventurados onde já se encontram o deputado João Morgado (defensor do acto sexual apenas para procriar), Sousa Lara (censor de Saramago) e Mariana Cascais (secretária de Estado convicta de que Portugal tinha o catolicismo como religião oficial). A Estado laico é que foi posto em causa.
Cavaco não vê o País como uma República mas como local de sofrimento e purificação, visão que se exacerbou na visita à Capadócia. Por isso um partido que descriminalizou o aborto, facilitou o divórcio e aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não lhe merece solidariedade institucional, provoca-lhe azia e obriga-o a persignar-se.
Cavaco não saiu de Boliqueime, trouxe Boliqueime consigo para o resto da vida e se a sorte o fez presidente de uma democracia não foi porque tivesse sentido alguma vez que viveu em ditadura. Em Boliqueime não se pensava nos presos políticos, na guerra colonial e nas tropelias do regime fascista. Não foi por maldade mas por ser rudimentar a cultura e aliciante seguir uma carreira universitária.
Hoje, os culpados são os eleitores que fizeram dele o garante do regular funcionamento das instituições.
Não teve dúvidas em promulgá-lo e nem sequer suscitou a fiscalização preventiva da sua constitucionalidade. As receitas para a Segurança Social foram postas em causa e os partidos à esquerda do PS talvez venham a verificar que votar ao lado da direita não é a melhor forma de defenderem os trabalhadores de cujo monopólio se arrogam.
Não foi o PR que alinhou com a oposição, foi esta que alinhou com o PR. Há muito que Cavaco é o rosto mais credível da oposição de direita e se não fossem os 357 mil euros de mais valias com que arredondou os quatro salários (PR e as reformas de professor, do Banco de Portugal e de primeiro-ministro) com as 255.018 acções da Sociedade Lusa de Negócios, dele e da filha, teria hoje uma imagem mais consistente.
O caso das escutas não foi obra de Manuela Ferreira Leite, a quem não se reconhece inteligência para a façanha nem relações privilegiadas com Fernando Lima. O único suficientemente sagaz e maldoso era Paulo Portas mas Cavaco não esquece as pulhices do Independente.
O Estatuto dos Açores tinha merecido uma votação unânime, embora infeliz, mas o PR privilegiou os ataques à AR e ao PS. Na lei do divórcio fez a síntese do pensamento da Conferência Episcopal e da direita mais jurássica.
Cavaco já provou ser um homem determinado e capaz de correr riscos. Ao presidir à comissão de honra da canonização de Nuno Álvares Pereira, certificou dessa forma o milagre da cura do olho esquerdo de D. Guilhermina, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe, e inseriu-se na galeria de bem-aventurados onde já se encontram o deputado João Morgado (defensor do acto sexual apenas para procriar), Sousa Lara (censor de Saramago) e Mariana Cascais (secretária de Estado convicta de que Portugal tinha o catolicismo como religião oficial). A Estado laico é que foi posto em causa.
Cavaco não vê o País como uma República mas como local de sofrimento e purificação, visão que se exacerbou na visita à Capadócia. Por isso um partido que descriminalizou o aborto, facilitou o divórcio e aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não lhe merece solidariedade institucional, provoca-lhe azia e obriga-o a persignar-se.
Cavaco não saiu de Boliqueime, trouxe Boliqueime consigo para o resto da vida e se a sorte o fez presidente de uma democracia não foi porque tivesse sentido alguma vez que viveu em ditadura. Em Boliqueime não se pensava nos presos políticos, na guerra colonial e nas tropelias do regime fascista. Não foi por maldade mas por ser rudimentar a cultura e aliciante seguir uma carreira universitária.
Hoje, os culpados são os eleitores que fizeram dele o garante do regular funcionamento das instituições.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Repare que tenho todo o respeito por quem frequentou as escolas comerciais e industriais, mas que se nota, ai isso nota!
Quando se deixará de confundir Cavaco Silva com as gentes de Boliqueime?
Peço desculpa aos democratas de Boliqueime.
Tem toda a razão.
Também Santa Comba Dão não pode ser confundida com o sinistro ditador que ali nasceu.
Bom ano de 2010 e obrigado.
Resta-nos a D. Lídia Jorge essa ainda nos faz companhia.