Obama - a ambivalência da guerra e da paz...
Barack Obama proferiu, ontem, em Oslo, na cerimónia de recepção do Prémio Nobel da Paz um discurso ambivalente.
Politicamente, um discurso de Homem de Estado, realista, em que defendeu o conceito de “guerra justa”. Agarrou-se, ao conceito filosófico, de raiz aristotélica em que: “O objectivo da guerra é a Paz”!
Durante o discurso sublinhou a necessidade deste realismo político ser posto em confronto com as posições idealistas, centralizadas nas ideias humanitárias e no papel da ONU que, como se sabe, gravitam á volta do conceito de comunidade internacional.
Advertiu, para que não perdurarem equívocos. “O mal existe no Mundo.” E enfatizou a sua postura: “ A não-violência não teria conseguido deter os exércitos de Hitler…”
Finalmente, transpôs este raciocínio para a actualidade. No momento em que recebia o Prémio, Obama empenhava-se no reforço e na intensificação da Guerra do Afeganistão. Aqui, no seu entendimento, e tendo em consideração a ética internacional, prevalecerá para salvaguarda humanitária o “animus belligerandi" justificando-a como uma “guerra necessária”.
Acrescentou, então, para esclarecer as suas balizas éticas sobre a não-violência, que uma postura pacifista, não chega, também, para convencer a Al-Qaeda, a depor as armas.
Teve o cuidado de referir que estava consciente que estas “constatações realistas” devem coexistir com uma outra: “ainda que justificada a guerra promete uma tragédia humana…”
Finalmente, não deixou de manifestar as suas preocupações quanto à Paz no Mundo.
Realçou o papel dos EUA, nas últimas 6 décadas, na consolidação da Paz e salientou o orgulho que sentem os americanos pelo papel desempenhado na libertação dos povos.
A ênfase da “pax americana”.
Comprometeu-se a trabalhar para assegurar a segurança no Mundo e aproveitou para distanciar-se do seu antecessor, G. W. Bush, condenando,inequivocamente, a tortura.
Não deixou de evocar o seu empenho, e de reafirmar a sua convicção, na desnuclearização do Mundo, como um passo indispensável para alcançar a Paz. Todavia, é lícito pensar que o seu objectivo imediato não seja a desnuclearização global, ou se quisermos um Mundo sem armas nucleares, mas a contenção da proliferação de novos arsenais nucleares, como se verifica no Irão e na Coreia do Norte.
Evitou referir-se ao conceito de guerra na sua plenitude. Isto é, na actualidade a guerra não pode ser observada exclusivamente na óptica militar e justificada pela segurança dos povos. Hoje, poderá ser também, ou será essencialmente, política, económica, social e, até, étnico-religiosa (sob o manto diáfono de proselitismos e nacionalismos extremistas).
A condenação das fatídicas “guerras preventivas”, tão do agrado dos neocons americanos, que continuam a ser personalidades influentes na manobra político-militar dos EUA, não deveria ter sido “esquecida” por Obama…
Enfim, um discurso ambivalente sobre a “Guerra e Paz”.
Curioso é que estando a ser premiado com o Nobel da Paz, no seu discurso, citou 44 vezes (salvo erro) a palavra – guerra!
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