O Papa e o respeito pelo país visitado
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Pode e deve discutir-se a conjuntura da visita, na proximidade de eleições presidenciais, em período de anúncio de medidas gravosas para o equilíbrio das contas públicas e num tempo de contenção orçamental.
Certamente que a tolerância de ponto ficará como decisão inapagável de um país que se genuflectiu ao autocrata que governa a única teocracia europeia. A memória registará as excessivas demonstrações de consideração que se transformaram em subserviência.
Como é frequente, o ruído mediático abafou dois objectivos importantes desta viagem com que exultaram os crentes – a celebração dos 5 anos da beatificação dos pastorinhos e a fuga à pressão mediática a que estava a ser submetido Bento 16.
O Papa veio comemorar cinco anos de beatificação de Francisco e Jacinta, duas crianças com muitas décadas de defunção a quem a família de médicos Felizardo dos Santos (pai, mãe e filha) atribuíram a cura de D. Emília Santos, intermitentemente entrevada, que morreria pouco depois, completamente curada e esquecida pela Igreja a quem fizera o milagre.
Por mais inoportuna e prejudicial que a viagem tenha sido para Portugal e por mais lucrativa e frutuosa que fosse para o Vaticano, Bento 16 não tinha o direito de criticar o país anfitrião pelas leis sobre o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo, como fez na homilia de Fátima.
Foi uma intromissão autoritária e inadmissível que merecia um protesto diplomático de qualquer país que prezasse a independência e execrasse a ingerência estrangeira em assuntos de política interna. Faltou a Portugal um ministro dos Negócios Estrangeiros que advertisse o Papa da intolerável falta de respeito para o país que o recebeu.
Comentários
Já nos discursos dos anfitriões, a ausência de abordagens (cobardia?) às recentes acusações de pedófilia entre o clero funcionaram como mais um sinal de subserviência.