Grécia e o ‘day after’



A Grégia é o (primeiro) exemplo vivo de como os planos de resgate gizados em Bruxelas, Frankfurt e Washington podem 'desestruturar' completamente uma sociedade, fracturando-a, por largos anos ou, na pior das hipóteses, irremediavelmente.

Os gregos - enquanto povo - não se lançaram numa aventura, não se tornaram irresponsáveis, nem são uns 'mandriões' e/ou parasitas como a filosofia mercantilista luterana (e calvinista) os pretende catalogar. Trata-se de um povo que foi empurrado por sucessivos erros políticos, de governação económica e financeira (que mereceram a 'prestimosa colaboração' e cumplicidade de organismos, instituições e empresas internacionais) para uma humilhante e insuportável situação social, fracturante e destruidora (das pessoas e das instituições), que – a prosseguir por o actual caminho - não acabará bem e originará, como é óbvio, ‘ondas de choque’ catastróficas no domínio político, económico e financeiro (quer na Grécia, quer no seio da UE).

As actuais crises orçamentais e das dívidas públicas que assolam muitos países europeus decorrem – é uma evidência - de inadequadas concepções políticas e económicas que foram postas em prática, no pós-II Guerra Mundial. As graves perturbações e turbulências que se registam actualmente na Zona Euro inserem-se neste quadro global.
Se neste momento a política permanece refém dos ditakts e das cegas exigências financeiras que colocaram países sob o ferrete de ‘ajustamentos’ (públicos ou ‘encapuçados’), também será verdade que o modelo de governação democrática acabará, inevitavelmente, questionado (no bom ou mau sentido). Se o não for num quadro estritamente institucional, i. e., colocando em causa as organizações políticas ‘tradicionais’ da democracia (partidos e parceiros sociais, etc.), os diferentes tipos de futuras consultas populares (eleições, referendos, etc.) encarregar-se-ão de o fazer. Começa a ser pouco inteligível que se proceda a um ‘resgate financeiro’ sem, simultaneamente, mudar ‘alguma coisa’ no funcionamento da ‘praxis política’, a começar pelo controlo democrático. As eleições não poderão ser ‘ambientes’ de demagogia e de programas que submetidos ao crivo da exequibilidade estão votados ao incumprimento. Sendo imperioso regressar à política é certo e sabido que as exigências, neste campo, crescerão em flecha, obrigando que esta mude. Isto é, que seja transparente, idónea e responsável e mais próxima dos cidadãos. Assim, os resgates financeiros não bastam, nem conduzem a resultados reabilitadores se – paralelamente - não existirem mudanças na forma de ‘fazer política’, como por exemplo, nas posturas de governação, nos procedimentos executivos e nos comportamentos de regulação da actividade pública.

Quanto olhamos para a ‘direcção política europeia’, nomeadamente para o eixo franco-alemão que tem dominado (até aqui) as opções comunitárias em todos os seus vectores, sentimos que a presente ‘deriva intergovernamental’ erguida sob os escombros das instituições europeias orgânicas (PE, CE) mostrou-se, em vários momentos, incapacitada, insuficiente e hesitante na construção de respostas prontas e credíveis aos desafios que enfrentamos (não vamos usar o termo ‘sustentadas’).
Essa ‘dominância’ para além de não ser capaz de gerar soluções consensuais já que – em muitas situações - gravita à volta de interesses nacionais e/ou partidários, falha no campo da representatividade (política). Os Tratados e os Pactos de âmbito europeu passam ao lado desse problema fundamental: a coordenação e coesão (de) política(s). E são falhos na questão de representatividade que só será plena e estável quando for conseguida no seio de uma União que assente em qualquer modelo de federalismo (estatuto que incomoda muita gente).

O ‘drama grego’ poderá ser usado como uma oportunidade (agora que tudo parece ser uma ‘oportunidade’) para novas aprendizagens de vivência democrática e, mais, no testar da solidez dos laços comunitários.
Não é avisado pensar que o permanente agitar do espantalho acerca do eventual abandono, pela Grécia, da Zona Euro resolverá quaisquer dos múltiplos problemas que a UE enfrenta neste conturbado período histórico. Se tal situação vier a ocorrer será, antes, o primeiro dia do resto da União. O risco de implosão é enorme porque se tornará incontornável o diluir da incipiente coesão europeia que, com alguns sobressaltos, foi sendo conseguida ao longo percurso histórico que se iniciou no Tratado de Roma (1957).

O previsível impasse político a que as próximas eleições na Grécia deverão conduzir tornam, de modo cada vez mais notório e premente, a necessidade (obrigatoriedade) de repensar as actuais 'receitas UE/BCE/FMI' e, ‘ordeiramente’ (cliché muito em voga), adequá-las aos povos e aos cidadãos de modo a que, com dignidade, justiça, equidade e tempo (não esquecer este vector), se possam corrigir sem ressabiamentos profundos os erros do passado e resolver os múltiplos problemas actuais (graves e sistémicos), não comprometendo (nem empenhando) simultaneamente a democracia (na sua essência) nem o futuro, por longos e sofridos anos.
Se a UE pretender enfrentar a presente ‘tempestade’ alijando carga ao mar, vai perder lastro...e correrá o risco de afundar-se. As desencontradas reacções oriundas de Berlim, Paris, Madrid, Roma, Bruxelas, Madrid, Frankfurt, etc., parecem, cada vez mais, o estoirar de fátuos 'fogos de artifício' e, por outro lado, o frequente (sistemático) refúgio na inevitabilidade do estrito cumprimento dos 'acordos' intergovernamentais estabelecidos entre executivos europeus (por regra ao arrepio do escrutínio popular) mostram à saciedade que os problemas são (muito) maiores do que a Grécia.

Em 18 de Junho - no dia seguinte às eleições na Grécia - novos desafios aparecerão à luz do dia, no contexto europeu. Tudo leva a crer que o mais importante e significativo será a indelével marca do insucesso das lideranças políticas (grega e europeia). É que na trajectória (histórica) dos povos, tal como se verifica na vida, processos de ruptura encerram sempre responsabilidades de vários ‘actores’.

O previsível impasse resultante das próximas eleições gregas 'manchará' todos os protagonistas que têm estado no terreno. Assim, no day after, a Grécia poderá estar à beira da bancarrota mas, simultaneamente, a liderança europeia dos tempos de crise encontrar-se-á imersa - ou submersa - num profundo mar de descrédito. Assim, o 'escrutínio de Atenas' contamina (outro termo recorrente da política) quer o modelo de governação da Grécia nos últimos decénios (decorrente do derrube da ditadura dos coronéis), quer a política europeia, nomeadamente, o excessivo protagonismo do eixo Paris-Berlim e um progressivo e aviltante ‘apagamento’ das instituições europeias em especial da Comissão Europeia e Parlamento Europeu. E nesta quezília não há ‘inocentes’…

Comentários

Um excelente texto que poderá desanimar os leitores de blogues. O que será uma pena.
é pá day after ou é livro de ficção científica ou pseudo-filme da dita cuja

Carlos Esperança disse...

Um excelente (quer dizer grande e pesado ou curto e grosso? texto (amontoado de palavras que parecem ter um fio con du thor)que poderá desanimar os leitores de blogues....é a única que ele deve ter acertado na vida

isto porque as vossas ligações caíram para os 0:00 em termos absolutos

1ª hipótese os vossos leytores são rápidos

2ª estão todos desempregados e gastam o mínimo de energia

3ªº se bem me lembro costumavam ter uns comentários de encorajamento
daqueles tou con tigo pá
esfrega-me o meu blog queu esfreggo o teu..

pecebeste é pá?

pa rapaz já deves tar belhote

é como o jovem gricultor

o pÁ de rapaz estende-se à terceira idade e mais além...

and beyond era caminho das estrelas acho...

já agora se os blogues desanimassem então todos os maníacos que os escrevem estavam curados não é

é um acto ob-compulsivo titio...
a con sulta são 30 cêntimos
dê a um pobrezinho perto de si titio
quem dá aos pobres de espírito empesta adeus

Adeus tou curado...
fátuos fogos de artifício?

isto é associação por iniciais?

fodasse....
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (88anos),digo que da democracia,o DEMO grego,foi pelos romanos latinos transformado em DEMÓNIO e desde daí o DEMO é o Diabo e como tal tem de ser combatido pela acção
dos Ministros de Deus quer sejam os gregos ortodoxos quer sejam os romanos católicos ou os anglo-saxões.E nós vimos os Ministros de Deus ortodoxos cristãos a serem os intermediários no juramento feito sôbre os Evangelhos(nome grego)
pelos Chefes de Governo da Grécia.
Isto é a prova de que o DEMO grego
ainda constitui o rebanho de Cristo
que é também umm nome grego.Assim vemos a Oligarquia,a Plutocracia,
a Aristocracia (nomes gregos) dominando o DEMO com ou sem Coronéis (embora a Horda da Nato esteja sempre de prevenção) e com a bênção dos ortodoxos Ministros de Cristo.Uma situação semelhante (embora sem Nato,mas sob a protecção de Militares que até marcham como os Nazis)também sucede na Rússia capitalista em que os ortodoxos Ministros de Cristo abençoam a Oligarquia czarista mesmo sem Czar e que em poucos anos fez surgir milionários de um dia para outro,graças a Deus.
Plutocracia e Aristocracia
ora aos 48 anos de Hollande emigrou tarde já quarentão e arranha bem o dyto cujo ou é como os dos polderes do norte quinda se fecham no linguajar nativo?

aqui os dias de Abril nã fez surgir milionários de um dia para outro,graças a Deus....foi graças a outras cousas

e foram multimilionários pois a carne era fraca tal como o escudo...o florim já anda nas bocas do mundo?

forints de hollandes....

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