A Igreja católica e a homossexualidade
Apesar de ser prática corrente no seu seio, às vezes com
contornos onde a vergonha e o crime se confundem, a Igreja Católica Apostólica
Romana (ICAR) elegeu o combate à homossexualidade como desígnio divino do seu
proselitismo. Melhor dito, a ICAR tem horror a tudo o que diga respeito à
sexualidade, apenas se conformando com a função reprodutiva, de preferência com
exclusão do prazer.
A ICAR não se dá conta de que a castidade, que tão
entusiasticamente advoga, é o mais demolidor contracetivo existente e que o
método tradicional da reprodução, que tanto a enoja, é o mais popular,
frequente, e ao alcance dos mais pobres.
A misoginia herdada do Antigo Testamento está na origem de
todos os preconceitos e tolices que a ICAR tem cometido contra a saúde da
mulher, o planeamento familiar e o combate às doenças sexualmente
transmissíveis, especialmente em relação à sida, onde a teologia do látex se
sobrepõe à defesa da saúde e da vida de milhões de pessoas.
De todas as formas de sexualidade, a homossexualidade é a
que mais perturba o Papa e, curiosamente a que mais tem abalado o Vaticano. Trata-se
de uma abominação, segundo o Levítico (18:22), mas, contrariando a opinião
divina e a Igreja, a OMS suprimiu-a da relação de doenças, por não afetar a
saúde mental nem os comportamentos normais. E o Conselho Europeu, baseado no
consenso generalizado das conclusões científicas, opõe-se a que seja
qualificada como doença, desvio psicossomático ou perversão, instando os
Governos a suprimir qualquer tipo de discriminação motivada na tendência
sexual.
Perante a fanática homofobia clerical foi interessante ler
no El País de 12 de Abril p.p., que o Dr. John Boswell, no seu livro «Las bodas
de la semejanza» documenta como na Igreja católica, dos séculos VI a XII,
existia como normal a celebração litúrgica de casamentos homossexuais, com
ritos e orações próprias, presididos por um sacerdote.
«É a partir do século XIII que a homossexualidade assume o
caráter de vício horrível (pecado nefandum=innombrable), tão horrível que «innombrable»
não se aplica a factos mais graves: assassinato, matricídio, abuso de menores,
incesto, canibalismo, genocídio e deicídio incluído».
Enfim, venha o diabo para explicar esta violência homofóbica
da teologia católica cuja demência é comum aos outros monoteísmos.
Ponte Europa / Sorumbático
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