Adriano Moreira – cúmplice fascista reabilitado
Deixem-me pronunciar sobre este académico ilustre, de
passado pouco recomendável, antes de ser adulado no próximo dia 6 de setembro, ao
comemorar 90 anos, e elevado aos altares quando o seu deus for servido de o
chamar à divina presença, ao contrário dos ateus que se limitam a morrer quando
a vida se extingue.
Convém fazê-lo já, não porque o homem, lúcido e inteligente,
não continue a escrever – e bem –, e a pensar – e mal –, durante mais uma
década. Pela minha parte não lhe desejo a antecipação das cerimónias fúnebres,
do cortejo das carpideiras e dos elogios que os atuais PR e PM lhe fariam, à
semelhança do sucedido, quiçá por ignorância, ao recém defunto José Hermano Saraiva.
Convém fazê-lo agora, por dois motivos, porque posso
antecipar-me ao ministro fascista na defunção e porque, como notei no passamento
de J. H. Saraiva, não se pode dizer mal de um morto que ainda mal fede. Mesmo depois,
esquecidos os crimes, acabam por ser pessoas de bem, com missas sazonais a
sufragar a alma, a benzina que desencarde o passado do pior defunto.
Adriano Moreira foi também ministro de Salazar e não podia
ignorar as torturas da Pide, as prisões sem culpa formada, as medidas de
segurança, a violação da correspondência, os degredos, os Tribunais Plenários e
as enxovias do regime. Era um homem inteligente e informado. Sabia que a Pide
matava. Aliás, como subsecretário de Estado do Ultramar (59/61) e ministro da pasta
(61/63) foi o responsável da polícia política nas colónias.
Hoje já poucos se lembram de que foi ele quem assinou a
portaria que reabriu o Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, dessa segunda vez
destinado aos presos dos movimentos de libertação das colónias. Preferem
lembrar que foi democrata na juventude e no pós-guerra, quando, após a derrota
do nazi-fascismo, a Inglaterra prometia acabar com todas as ditaduras europeias
e Salazar e Franco tremeram.
Quando a cadeira salvou Portugal do ditador de Santa Comba
foi em Adriano Moreira, além de Marcelo, que os próceres da ditadura pensaram.
Era um bom académico? – Sem dúvida, como Marcelo. Mas como ministro do
Ultramar, para lá da reabertura do campo da morte lenta do Tarrafal, não teve
conhecimento dos atos bárbaros com que as Forças Armadas Portuguesas
responderam à crueldade da primeira sublevação em Angola? Ou defendia a pena de
Talião? Foi no seu tempo que se cometeram algumas das mais cruéis punições
militares. Não tinha força para as impedir? Mas foi determinado a demitir o
general Venâncio Deslandes de cuja fidelidade desconfiou.
Depois do 25 de abril de 74 foi militante do CDS e seu
presidente. Quando o CDS, por ser excessivamente reacionário e antieuropeísta
foi expulso da Internacional Democrata-Cristã Europeia, o político Adriano
Moreira demitiu-se ou ficou com Paulo Portas?
Não há a mais leve suspeita nem o menor indício de que seja
um democrata mas não faltarão Cavacos, Relvas e Coelhos vestidos de
gatos-pingados no funeral nem lugares-comuns a incensarem o «patriota», o
académico e o «democrata», entre os que, à falta de melhor, se engalanaram com
as penas da democracia.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
A memória, é o melhor património humano.
Uma coisa é tolerar, compreender e até integrar. Outra, é pura e simplesmente adulterar.
Parabéns ao autor e que o fastio passe depressa ao anticomuna (que deve ter sido o maior democrata em 26.04.74).
Os revolucionários esquecem-se de como reabilitaram famílias e patrimónios, esconderam os seus das purgas...
E MUITOS NÃO VALIAM NADA,EM COISA ALGUMA!
SOU DE ESQUERDA.
lES UNS E LES AUTRES- A REVER