Discurso na inauguração do Memorial ao 25 de Abril


A inauguração do Monumento ao 25 de Abril em Almeida

Senhor presidente da Câmara Municipal de Almeida, Senhor presidente da Associação 25 de Abril, caros cidadãos e cidadãs:

Neste dia de júbilo é meu privilégio, em nome da Comissão Promotora do Monumento ao 25 de Abril, em Almeida, saudar todos os presentes e agradecer o apoio dos que me acompanharam nesta odisseia de 12 anos. Lembro com emoção o António Ferreira, já falecido, o Alberto Vilhena, o Aristides, o Zé Vaz e o Rui Nabais, aqui presentes. Todos vivemos ansiosamente a chegada deste dia que devemos ao espírito democrático e à palavra honrada do Sr. Presidente da Câmara a quem felicito e testemunho o nosso reconhecimento.

Sr. Presidente da A25A, destacado protagonista e legítimo representante dos heroicos capitães a quem devemos a mais bela de todas as madrugadas, a mais gloriosa epopeia, a mais generosa de todas as Revoluções e o mais longo período democrático da nossa História:

Nunca tão poucos fizeram tanto num só dia e só a ingratidão de alguns iguala a gesta heroica com que marcaram a História e libertaram Portugal. Pelo que fizeram e pelo que vos devemos, aqui fica esculpido em pedra o testemunho da nossa gratidão. 

Portugal tem três datas simbólicas na luta pela liberdade: o 24 de Agosto de 1820 ( Revolução Liberal), o 5 de Outubro de 1910 (implantação da República) e o 25 de Abril de 1974, que derrubou a longa ditadura e abriu as portas à democracia.

A estas datas devemos juntar o 1.º de Dezembro de 1640, para recordar os quatro momentos identitários do nosso percurso histórico, datas que o patriotismo e a    cultura democrática deviam obrigar à celebração como feriados nacionais.

Em 25 de Abril a Pátria reconciliou-se com a História, antecipou-se à Espanha e serviu-lhe de consciência crítica, quando ainda sofria a cruel ditadura de Franco. Portugal entrou na Europa com o alvoroço dos jovens, a firmeza dos adultos e a sabedoria dos velhos. Por mais erros que tenham sido cometido, por mais sombrios que sejam os tempos atuais, não voltaremos onde partimos, nunca mais sofreremos a afronta da guerra, do analfabetismo e da opressão. 

O 25 de Abril de 1974, sendo a data histórica mais importante das nossas vidas é a mais emblemática da História de quase nove séculos, pelas transformações que operou, pelos caminhos que abriu, pelas oportunidades que criou, pesem embora a crise internacional e os erros próprios a que o 25 de Abril é alheio.  

A Revolução, sendo obra de alguns, daqueles que justamente homenageamos, é hoje património de todos os que amam a liberdade e procuram a justiça social.

Para comemorar a data que mudou Portugal, um grupo de democratas sonhou erigir em Almeida um monumento ao 25 de Abril, sonho partilhado pelo povo que logo o subscreveu, em abaixo-assinado dirigido à Câmara Municipal.

Coube a este presidente, a António Baptista Ribeiro, o mérito da obra que aqui fica para perpetuar o momento histórico que libertou Portugal. Este ato não é a mera homenagem ao passado, é a saudação ao futuro que Abril deixou aberto e uma forma de celebração do legado que transformou Portugal e os portugueses.

Almeida é um concelho onde a Europa começa a ser Portugal e por onde os emigrantes fugiam à ditadura. É um pilar da ponte por fazer entre o interior e o litoral num projeto que contrarie a desertificação e o abandono das terras que o poder central tem ostracizado.

Almeida é um elo da cadeia da liberdade que o 25 de Abril construiu para unir o norte e o sul, e também o leste e o poente do Portugal de sempre. Almeida está a oriente. É onde se nasce. E, tal como os rios, que se habituaram a correr para ocidente, também a cultura, viajava no Sud,  vinda de Paris, seguindo o mesmo trajeto. Tal como as tropas de Napoleão. E as ideias liberais.

Este monumento é a homenagem devida aos capitães de Abril e à data que celebra. É a marca de uma terra de profundas raízes democráticas onde nasceram Eduardo Lourenço e o saudoso Dr. Teófilo Carvalho dos Santos, dois vultos de grande dimensão cívica, ética e intelectual que resistiram à ditadura a que os militares de Abril puseram termo.

O 25 de Abril não marcou apenas uma geração. É a marca do povo que descobriu a liberdade perdida. É o traço de união entre todos os democratas. É a memória comum dos que reivindicam a Europa, mais justa, mais fraterna e mais solidária.

Todas as gerações tiveram sempre heróis mas os de Abril sê-lo-ão sempre e para todas as gerações vindouras.

Saibamos defender e ser dignos de Abril para evitar as tentações de um novo 28 de maio.

Viva o 25 de Abril.

Viva Portugal.

Almeida, 2 de Julho de 2012
Carlos Esperança 

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