A "PACIÊNCIA" DO POVO PORTUGUÊS

Cortejos e procissões,
Fátima, fados e bola,
são as únicas distrações
dum povo que pede esmola.

Meia noite; a marcha passa,
entre canções, ao luar;
bendita seja esta raça
que mata a fome a cantar!

Não, estes versos não são de hoje; circulavam clandestinamente no tempo do regime salazarista, cuja opressão suportámos "pacientemente" durante longos 48 anos. No entanto, parece que continuam atuais.
Em Espanha, bastou o 1º ministro Rajoy anunciar "medidas de austeridade" para os espanhóis, logo no dia seguinte, se revoltarem mais ou menos espontaneamente, em diversas cidades, vindo para a rua, ocupando as praças principais, protestando ruidosamente, e mostrando ao Governo o que o espera se tentar impor tais medidas.
Em Portugal suportamos há quase dois anos medidas ainda ainda mais gravosas. O Governo espolia os portugueses dos seus rendimentos do trabalho, lança dezenas de milhares de trabalhadores no desemprego e milhares de empresas na falência,reduz à pobreza a classe média, agrava insuportavelmente os impostos, vende ao desbarato empresas de valor estratégico para o País, aliena miseravelmente a soberania nacional, tudo para agradar a organizações estrangeiras e a uma matrona teutónica. Por muito menos que isso foi Miguel de Vasconcelos defenestrado na restauração de 1640.
Este governo (alguém já lhe chamou "comissão administrativa")tem nas pastas principais uns tecnocratas sem alma e sem qualquer sensibilidade humana; mas até como tecnocratas são incompetentes: para aumentar as receitas do Estado, sobem drasticamente o IVA; mas a coleta do IVA diminuiu (era de esperar: eu aprendi no 2º ano de Direito, pela boca do saudoso Doutor Teixeira Ribeiro, que quando se sobe os impostos para além de certo limite a coleta desses impostos, em vez de subir, desce. Estas luminárias que nos desgovernam nem essa coisa elementar sabem). Por outro lado, para diminuir as despesas do Estado, confiscaram os subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos; mas a despesa do Estado aumentou!
No entanto, o povo português tudo parece suportar, a ponto de o indivíduo que faz de 1º ministro ter a "lata" de elogiar cinicamente a "paciência" dos portugueses.
A coisa chega a tal ponto que no "Expresso" de hoje se coligem os seguintes dados:

- numa sondagem, 61,4% (sim, sessenta e um vírgula quatro por cento!) dos inquiridos responde que "vão ser precisas mais medidas de austeridade"!!!

- doutra sondagem resulta que o PPD/"PSD" continua a ser o partido com mais intenções de voto; o PS fica atrás; e os partidos mais à esquerda têm intenções de voto baixíssimas: CDU 8,7% e BE 6,9%.

Que País é este? Seremos masoquistas? Ou analfabetos políticos?

È urgente que o povo português acorde da sua apatia. Mas para isso torna-se necessário que a oposição faça uma verdadeira oposição, o que não tem sucedido. O PS parece uma múmia paralítica; é certo que está vinculado ao memorando da troika; mas o governo gaba-se de "ir além da troika" e vai mesmo muito além do que consta do memorando. Ora a isso já o PS já não está vinculado. Por isso, quando o governo vai além do memorando, o PS devia malhar-lhe forte e feio; mas não faz nada!
E para que servem as centrais sindicais?

Será que, como disse Otelo, é preciso outro 25 de Abril? Espero sinceramente que não, e que o povo seja capaz de resolver os seus problemas por si. Mas por enquanto não está a mostrá-lo, antes pelo contrário.

Comentários

e-pá! disse…
AHP:

'Este governo (alguém já lhe chamou "comissão administrativa")'...

Chamar-lhe-ia 'comissão liquidatária'...
Há, nisto tudo, tanto de iliteracia e défice de consciência cidadã, quanto de descrença nos poderes instituídos (PR, governo, deputados, magistraturas, oposições, etc).
Sem uma consciência colectiva marcada e autónoma, o único ponto de apoio de qualquer alavanca de acção seria uma oposição credível por parte do PS.
Ora esta oposição da direcção do Seguro é a dos mansos, dos cúmplices, dos arranjistas, dos manobristas, dos zebrados, dos instalados, dos aparelhistas, que não faltam no PS.
Descrente, e com razão, a malta amocha.
Folga o Passos, claro, enquanto o Portas sorri.
Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote
88anos)já tenho dito e continuarei dizendo que o PS e o PSD são como dois irmãos gémeos que se guerreiam na disputa da herança da Quinta-Portugal,pois quando alternadamente estão no Governo,ambos praticam a Política Liberal DITADA de Bruxelas e ambos apoiam a Horda mercenária da NATO e suas guerras de rapina e destruição.Mas o PSD leva vantagem
sôbre o PS,porque tem a acolitá-lo o CDS/PP da chamada «democracia»
cristã em que há muita gente com
saudades da Ditadura clerical-
fascista do Estado Novo.
Mas,porém,todavia,contudo....
Com populismo e demagogia,
muita mentira,verdade parece,
mas em liberdade e democracia,
o Povo tem o Governo que merece.
Com todo o respeito, dizer que PS e PSD são como dois irmãos gémeos, é uma cegueira fatal. É a teoria do comité central desde Stalin, que tem levado ao nada.
Concedo que o PS é uma cambada de bestas, hoje vê-se mais que nunca; ao passo que o PPD é e foi sempre uma quadrilha de escroques e traidores.
Cá por mim, já dizia o Gil Vicente: antes quero asno que me leve, do que cavalo que me derrube.
Ou antes quero pão bem duro do que pedras da serra, há mil maneiras de dizer a mesma coisa.
Nau disse…
As revoluções, todas elas realizadas em nome de liberdades e igualdades, a princípio parece que fazem juz às mil promessas feitas, iludindo o povo que as desejava e apoiou.
A prazo, porém,vão-se instalando os chicos-espertos, aldrabões, gatunos e oportunistas de toda a casta, que passam a constituir a nova aristocracia. É o tempo da disputa da gamela do poder onde se cevam como suínos.O povo é votado ao desprezo e passa a ser, exclusivamente, joguete para períodos eleitorais que lhes dão o aceso à teta.
Vejam-se os desvarios de má governação, as mentiras, as falcatruas, os roubos em que boa parte da nossa classe política está comprovadamente envolvida, sem ser condenada por tal. Cotejem-se o património e os rendimentos que esta gentalha tinha antes, com as fortunas que adquiriram no desempenho da «nobre função de servir», como eles gostam de apregoar.
Caro e-pá

Tem toda a razão. A expressão "comissão liquidatária" é muito mais apropriada!

ahp

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