A Constituição, o PR e o bando que nos governa
Nunca a falta de cultura democrática, e da outra, atingiu tais limites nos palácios de Belém e de S. Bento. A crise serve de alibi a todos os atropelos e, não raro, às piores vilezas.
O PR sabia que o esbulho dos subsídios aos funcionários
públicos era inconstitucional e promulgou-o com a mesma serena indulgência com
que atribuiu a dois pides a pensão que negou a Salgueiro Maia, por serviços
relevantes. Quem não distingue um herói de um bufo perde a consideração que o
cargo lhe confere. Nem sequer pediu ao Tribunal Constitucional a fiscalização
preventiva das normas claramente inconstitucionais.
O Dr. Passos Coelho e o Dr. Miguel Relvas, com equivalência
académica e obstinada firmeza na
destruição do estado social, não fazem a menor ideia do que seja a ética e o
sentido patriótico. Por uma questão mimética ou reacionarismo militante, os
ministros alfabetizados seguem a dupla mandante como asnos puxados pela
arreata.
A ministra da Justiça fez ameaças veladas ao TC quanto à
possibilidade de ser declarado inconstitucional, como aconteceu, o saque dos subsídios
aos funcionários públicos e pensionistas. O PM, mal conheceu a decisão,
insinuou que se vingaria nos empregados por conta de outrem. O ministro da
Saúde, com uma negociação combinada com os médicos, aludiu à eventual
requisição civil, como faria um esbirro de Salazar, pondo termo à negociação
antes de começar.
O Dr. Relvas, medíocre estudante do ensino secundário, mas distinto
na arte de colar cartazes, entrega-se agora à tarefa de desmantelar a televisão
pública com a ajuda de um empregado da Jerónimo Martins, amigo do PR, que dá
pelo nome de António Borges e é ministro clandestino em part-time. O passado deste
ultraliberal, que Cavaco preferia a Durão Barroso, na chefia do Governo, é a
garantia de que o desmantelamento do serviço público da RTP será cabalmente
cumprido. Custe o que custar.
Desde 1 de Janeiro de 2011, as pensões de valor mensal superior
a 5.000 euros, ficaram sujeitas a uma contribuição extraordinária de 10% sobre
o montante excedente. Esta medida vai continuar válida para todos os
reformados. Para todos? – Não. Os juízes e procuradores ficam libertos da
contribuição extraordinária de solidariedade e os cortes, já feitos, foram ou
vão ser-lhes devolvidos .
Este Governo é forte com os fracos e cobarde com as
clientelas. Nas autoestradas rodam automóveis do Estado, sem identificação,
distribuídos a milhares de funcionários cujo conteúdo funcional dispensa tão onerosa
prebenda.
As senhas de presença atingem valores obscenos nas empresas
públicas; nos concelhos recônditos do país há sempre quem se desloque de Lisboa,
Coimbra ou Porto, às vezes aos pares, para assembleias municipais, com ajudas
de custo, deslocações e senhas de presença, além da necessidade de tratarem de
assuntos pessoais; os condutores dos Srs. administradores de empresas públicas
municipais esperam longas horas extras à porta dos «patrões» para arredondarem
os vencimentos em linha com os dos ministros. Nisto o regabofe continua ou
agrava-se.
Ponte Europa / Sorumbático
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