Quo vadis, PCP?

O PCP foi o mais corajoso e consequente partido político na luta contra a ditadura e os seus militantes os que mais sofreram a repressão fascista. Quando o 25 de abril libertou Portugal senti-me honrado por ter sido, durante 13 anos, companheiro de estrada de tão abnegados militantes cuja filiação partidária desconhecia. Ainda hoje os respeito.

Impediu-me o centralismo democrático de me identificar com os comunistas, com quem partilhava muitas aspirações, mas nunca deixei de admirar a coerência, a dedicação e a coragem de que os militantes dão provas. Lamento que a intransigência varie na razão direta da dedicação ao partido e que se isolem das outras forças de esquerda.

A última vez que esteve amplamente acompanhado foi na AR onde, além do BE, teve o PSD e o CDS, com a bênção de Belém, a inviabilizar o PEC IV para derrubar o governo do PS.  Nem a aliança com o CDS e o PR fez tremer os joelhos aos deputados do PCP quando se levantaram para a votação cujas consequências conheciam.

A  última moção de censura ao Governo não passou de uma provocação ao PS que, por pior que seja, jamais se deixará liderar por um partido que lhe é hostil. Sem a renúncia à conquista revolucionária do poder e a manifestação inequívoca de que está disponível para uma aliança governamental, o PCP caminha, lenta e inexoravelmente, para a sua irrelevância política, sem préstimo nem futuro.

Cada vez que defende a convergência é uma voz isolada que apenas consegue aliciar os Verdes e, dessa forma, impedir que sejam uma força política que se afirme e influencie os sucessivos governos. A indisfarçável animosidade contra o Congresso Democrático das Alternativas é um ato de sectarismo que exclui a convergência que proclama. Não tardará que Carvalho da Silva seja considerado traidor e um aliado do capitalismo. Esse caminho é o seguro de vida da direita, que diz combater, e que apenas se tem traduzido em insultos a membros do Governo que se deslocam pelo país, pouco compatíveis com a luta democrática.

Só privilegiados, pilotos da TAP, maquinistas da CP e poucos mais, podem ainda fazer greves, enquanto os trabalhadores a prazo suportam condições desumanas e uma legião de desempregados vive desesperada.

O PCP não muda de comportamento e está no seu direito mas os portugueses que ainda confiam no partido diminuem inexoravelmente embora a profundidade da crise beneficie os radicalismos.

As alterações do capitalismo transformaram a correlação de forças no seio das classes trabalhadoras e os operários e camponeses nunca mais poderão ser a vanguarda da luta de classes como o PCP a olha. A terciarização da sociedade devia ter levado o partido, com base no materialismo dialético, a rever a política de alianças.

Mas quem sou eu, pequeno-burguês, não leninista, para aconselhar o comitê central do «partido da classe operária»?

Ponte Europa / Sorumbático 

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