A Grécia, a União Europeia e Portugal

Sei pouco do que quer que seja e ainda menos de macroeconomia, mas sei alguma coisa de política e de história. É por isso que não perdoo a Reagan, Thatcher e João Paulo II a herança sinistra do pensamento único a que o ultraliberalismo conduziu, nem a Helmut Kohl e a João Paulo II o desmembramento jugoslavo que começou nas independências eslovena e croata, com que abriram a caixa de Pandora, e acabou no offshore da droga e da jihad, o Kosovo.

Sei pouco de geoestratégia mas condeno quem desafiou Putin e o virou contra a Europa também sua, servindo interesses alheios. Conheço os cruzados que, ao arrepio da ONU, invadiram o Iraque e, além do crime, perderam a face para acusarem a Rússia quando se excedeu na defesa dos russos contra a Geórgia ou contra o golpe de Estado da Ucrânia.

Acompanho a Grécia desde o jugo dos coronéis até à asfixia atual e lamento que os dois partidos, de duas famílias, fossem incapazes de fazer um país laico e virtuoso, sem botas de coronéis e o hissope dos patriarcas. Lamento que o PASOK traísse o seu programa e se tenha suicidado na corrupção e compadrio, de mãos dadas com a Nova Democracia.

Os dois partidos estruturantes da democracia política atual foram os coveiros da Grécia, que lhes deu repetidas oportunidades, sem que o patriotismo que moveu o Syriza tivesse despontado neles.

 Localizada estrategicamente no cruzamento entre a Europa, a Ásia, o  Médio Oriente e a África, a Grécia hesitou entre a modernidade e a tradição, sufocada pelas vestes talares do clero e a incompetência e corrupção de dois partidos políticos.

Com a UE tolhida pelo medo e pusilanimidade dos seus dirigentes, Yanis Varoufakis interroga: “Se a Grécia sair, quem irá a seguir? Portugal?”.

O alerta do ministro das Finanças grego para Portugal e para toda a zona euro, “se a Grécia sair da união monetária, esta irá ‘desmoronar-se como um castelo de cartas’, é ignorado por um Portugal que ressona, com um Governo autista, uma maioria acéfala e um PR comprometido.

Hoje, ao contrário dos que querem punir o Syriza, arruinando a Europa, é o Syriza que, querendo salvar a Grécia, pode salvar a União Europeia. Alexis Tsipras está a fazer à Europa o que Eça de Queirós quis fazer a Portugal: « E simplesmente o que eu quero fazer é dar um grande choque elétrico ao enorme porco adormecido (refiro-me à Pátria).

[Eça de Queirós, carta a Ramalho Ortigão, de 10 de Novembro de 1878, in Cartas e Outros Escritos].

Que os porcos, feios e maus acordem.

Comentários

e-pá! disse…
A irrelevância de Portugal no seio da UE é confrangedora.
E a irresponsabilidade também.
A situação europeia atravessa um momento difícil e imprevisível e deverão movimentar-se, no Conselho Europeu, várias peças no confuso tabuleiro.
Entretanto, o primeiro-ministro lá foi adiantando 'palpites' sem rede.
Depois de se colocar de joelhos perante os credores não teve rebuço em fustigar o Governo grego como um intragável devedor...
Um insuportável 'travesti' político. É isto que temos a dirigir esta 'paróquia'.
E-Pá:

Depois do teu comentário, o PR fez a mais lamentável declaração que pode fazer-se contra um país "amigo".

Já não distingue a postura de Estado da impostura de militante do PSD.

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