A Líbia, o Estado Islâmico e a Europa

A Líbia do exótico coronel Kadafi, cristãmente cedido para ser torturado e assassinado ao nível da mais refinada violência islâmica, deixou de existir. As hordas libertadoras arruinaram o país, que passou do Eixo do Mal ao do Bem, antes de acabar Péssimo. As tribos roubaram as armas químicas do arsenal do exótico ditador, o sofisticado material de guerra que acumulou e o petróleo que sustenta a formação do Estado Islâmico com que generais de Kadafi se vingam das milícias que os derrotaram, apoiadas no potencial de fogo dos ‘libertadores’.

No país que resta, afundado no caos, onde todos combatem contra todos, por entre um número indeterminado de tribos insubmissas e armadas, surgiram dois governos, um islâmico e outro nacionalista, com duas capitais, Tripoli e Tobruk, e dois parlamentos. O Estado Islâmico saiu à rua neste húmus onde semeia a palavra do profeta amoral e medra a jihad.

A anarquia e a violência são mais ferozes do que mulás furiosos a recitar o Corão. A Itália aterroriza-se com a fuga em massa que se vislumbra, ajudada ou estimulada por milícias líbias. A quinhentos km memorizam-se os versículos do Corão e treina-se o manejo de armas. Lampedusa poderá ser a Meca da viagem de tunisinos cheios de fome, ódio e fé.

A jihad virá a caminho do sul da Europa num movimento inverso ao do cristianismo, de Granada ao Algarve, com vários séculos de intervalo, burkas a caminho de Albufeira e cimitarras a brilharem nas praias da Andaluzia. Nasceu um «espaço vital», agora num território que expulsará Voltaire sob pressão da epidemia demencial criada por um beduíno analfabeto.

Entre a Tunísia e o Egito, o Mediterrâneo é a ponte para Itália, por onde passa um drama colossal que criará outro. A Itália não pode continuar sozinha, vítima dos dramas do outro lado do mar, com a Europa a ignorar os milhares de afogados que procuravam a sobrevivência e os que sobrevivem, com as vítimas da primavera árabe a desembarcarem no inverno europeu.

Ah! A União Europeia esquece-se do Chipre e da Grécia, esta com 227 ilhas habitadas, das 1400 que lhe deixam 14880 km de costa por onde se perde o rasto dos desesperados que podem chegar da Ásia, do Médio Oriente e, sobretudo, da África, invadindo a Europa num êxodo de fome e desespero onde não faltarão gregos.  

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
CE:

Quando se descreve a actual situação na Líbia nos seguintes termos "o país que resta..." é um favor ou uma complacência.

Na verdade, enquanto país a Líbia sempre teve enormes dificuldades de se encontrar e neste momento não resta absolutamente nada. A Líbia é, no presente, um paradigmático exemplo de um "não-País".

Mas a presente situação do Norte de África e do Médio Oriente deve levantar a duas angustiantes perguntas:
- o 'jihadismo' nasceu de motu próprio no seio de fundamentalistas ou foi tacticamente incentivado por alguém?
- quem ajudou a libertar 'demónios' que não controla?

Procurar resposta a estas questões é urgente e fundamental para os cidadãos compreenderem a presente situação.
E obrigatório para desenhar futuras opções políticas que incidem sobre estas regiões geograficamente colocadas nos subúrbios da Europa.
No passado distante a Europa foi assaltada por estes 'caminhos' e a devastação só seria travada por Carlos Martel em Poitiers.
Mais recentemente (II Grande Guerra ) o futuro da Europa passou por aí à volta das heróicas batalhas travadas - nestes mesmos terrenos - entre o Afrika Korps e os Aliados.

No século XXI o que estão os "actuais (e ocidentais) aliados" a fazer?
No século XXI o que estão os "actuais (e ocidentais) aliados" a fazer?

R: são a comissão liquidatária do planeta que resta.

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