Há 54 anos, lá em Angola, no dia de hoje, 4 de fevereiro de1961
Na parte mais ocidental da Europa havia um país vergado pela ditadura, onde a censura, a repressão e o medo lançavam o desespero no povo subjugado por um déspota apoiado pela Igreja católica, defendido pela polícia, e onde as Forças Armadas se portaram como a guarda pretoriana do fascismo serôdio. A miséria, o analfabetismo e a fé prolongaram a tirania e permitiram o colonialismo de um país tão atrasado que até na descolonização foi o último.
O ditador fora de Coimbra para Lisboa, levando do CADC a peçonha e do fascismo a ilusão. Nascera numa aldeia próxima de Santa Comba Dão mas a aldeia do Vimieiro e o seminário nunca saíram dele. Julgou-se dono de um império que conhecia do Mapa das Colónias e não apreendeu os sinais da História com os outros países colonizadores.
A História é feita de paradoxos. No dia 4 de fevereiro de 1961 teve lugar em Angola a primeira rebelião contra o colonialismo, data que hoje o MPLA considera como o início da luta armada. Na origem esteve um missionário secular da diocese de Luanda, cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves (1896-1966), mestiço, que não pertencia ao MPLA, o movimento mais consequente na luta pela libertação.
Nesse dia, vários grupos de guerrilheiros, armados de catanas, num total de cerca de 200 guerrilheiros, talvez sem o saberem, deram início à longa e dolorosa guerra que acabaria com a ditadura portuguesa e o império colonial.
Um dos grupos fez uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, e tomando-lhes as armas e munições. O objetivo de libertar os presos políticos falhou no assalto à Casa da Reclusão Militar onde morreram 40 guerrilheiros, 6 agentes da polícia e 1 cabo do Exército Português. Falharam igualmente outros alvos, a cadeia da PIDE e a cadeia da 7ª Esquadra da PSP, outro cárcere de presos políticos, tal como a tentativa de ocupar e calar a Emissora Oficial de Angola, mas a semente da libertação foi lançada e , desde aí, em cada dia ficava mais isolada a ditadura salazarista.
A vindicta foi de uma crueldade inaudita. O assassínio indiscriminado de negros atingiu limites inimagináveis, a que se seguiria uma orgia de horror sobre brancos, sem poupar mulheres e crianças. O racismo teve aí uma das mais hediondas e dementes assinaturas.
A guerra injusta e perversa prosseguiu. Em 13 anos foram mobilizados mais de 800 mil jovens portugueses para Angola, Guiné e Moçambique. Morreram mais de 9 mil, foram evacuados 30 mil feridos e ficaram mutilados física e psiquicamente mais de 100 mil. Dos combatentes pela emancipação não há certezas, mas foi pesada a contabilidade e cruel o sofrimento de um lado e doutro.
O 4 de fevereiro de 1961, um movimento de origem partidária difusa mas de contornos políticos claros, foi o início do parto doloroso que se arrastaria por mais 13 longos anos na dolorosa epopeia para os guerrilheiros que lutaram pela independência, e numa inútil e inglória teimosia do fascismo português que sacrificou uma geração.
Do sofrimento infligido mutua e reciprocamente nasceram paradoxalmente os laços que hoje aproximam os países lusófonos e que, não digerida ainda a tragédia dos retornados, hão de irmanar-nos no futuro.
O ditador fora de Coimbra para Lisboa, levando do CADC a peçonha e do fascismo a ilusão. Nascera numa aldeia próxima de Santa Comba Dão mas a aldeia do Vimieiro e o seminário nunca saíram dele. Julgou-se dono de um império que conhecia do Mapa das Colónias e não apreendeu os sinais da História com os outros países colonizadores.
A História é feita de paradoxos. No dia 4 de fevereiro de 1961 teve lugar em Angola a primeira rebelião contra o colonialismo, data que hoje o MPLA considera como o início da luta armada. Na origem esteve um missionário secular da diocese de Luanda, cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves (1896-1966), mestiço, que não pertencia ao MPLA, o movimento mais consequente na luta pela libertação.
Nesse dia, vários grupos de guerrilheiros, armados de catanas, num total de cerca de 200 guerrilheiros, talvez sem o saberem, deram início à longa e dolorosa guerra que acabaria com a ditadura portuguesa e o império colonial.
Um dos grupos fez uma emboscada a uma patrulha da Polícia Militar, neutralizando os quatro soldados, e tomando-lhes as armas e munições. O objetivo de libertar os presos políticos falhou no assalto à Casa da Reclusão Militar onde morreram 40 guerrilheiros, 6 agentes da polícia e 1 cabo do Exército Português. Falharam igualmente outros alvos, a cadeia da PIDE e a cadeia da 7ª Esquadra da PSP, outro cárcere de presos políticos, tal como a tentativa de ocupar e calar a Emissora Oficial de Angola, mas a semente da libertação foi lançada e , desde aí, em cada dia ficava mais isolada a ditadura salazarista.
A vindicta foi de uma crueldade inaudita. O assassínio indiscriminado de negros atingiu limites inimagináveis, a que se seguiria uma orgia de horror sobre brancos, sem poupar mulheres e crianças. O racismo teve aí uma das mais hediondas e dementes assinaturas.
A guerra injusta e perversa prosseguiu. Em 13 anos foram mobilizados mais de 800 mil jovens portugueses para Angola, Guiné e Moçambique. Morreram mais de 9 mil, foram evacuados 30 mil feridos e ficaram mutilados física e psiquicamente mais de 100 mil. Dos combatentes pela emancipação não há certezas, mas foi pesada a contabilidade e cruel o sofrimento de um lado e doutro.
O 4 de fevereiro de 1961, um movimento de origem partidária difusa mas de contornos políticos claros, foi o início do parto doloroso que se arrastaria por mais 13 longos anos na dolorosa epopeia para os guerrilheiros que lutaram pela independência, e numa inútil e inglória teimosia do fascismo português que sacrificou uma geração.
Do sofrimento infligido mutua e reciprocamente nasceram paradoxalmente os laços que hoje aproximam os países lusófonos e que, não digerida ainda a tragédia dos retornados, hão de irmanar-nos no futuro.
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