Laicismo, laicidade e hipocrisia

O laicismo é a doutrina que procura emancipar as instituições do seu caráter religioso e excluir a influência das religiões no estado, na cultura e na educação, sem lhes impedir os direitos de ensino e organização que confere às outras associações.

A laicidade é o modo concreto da tradução e aplicação prática da doutrina. O laicismo é, pois, a doutrina e a laicidade o modo de a levar à prática.

Dizer que se é a favor da laicidade mas contra o laicismo é a forma enviesada de afirmar o apreço pela separação da Igreja e do Estado desde que não seja praticada. É a dialética das religiões dominantes, impedidas de serem totalitárias, usada sonsamente à guisa de argumento.

Ser contra o laicismo e a favor da laicidade é o mesmo que ser a favor da heroicidade e contra o heroísmo. Só notará a diferença quem tenha um paladar, tão requintado, capaz de distinguir a água benta da outra ou a hóstia consagrada de uma rodela de pão ázimo.

Em Portugal, a Constituição exige a separação do Estado e da Igreja, isto é, defende a laicidade. Os Governos julgam que as sotainas lhes trazem votos e contrariam-na. Hoje, o bispo de Lisboa foi criado cardeal e a RTP-1 parecia a emissora eclesiástica, contra a laicidade. O contubérnio entre a Igreja e o Estado continuam.

Comentários

e-pá! disse…
Não se percebe a 'alegria' e encómios de alguns dos actuais políticos governamentais dirigidos à atribuição ao patriarca de Lisboa da dimensão cardinalícia.
Na verdade, trata-se de uma tradição do rito romano da ICAR que remonta ao início do séc. XVIII e, portanto, do acesso a um estatuto conferido por inerência de funções, isto é, por 'tarimba eclesiástica'.
É manifestamente exagerada a euforia que - tendo em conta o carácter laico do Estado português - se apossou de alguns dos nossos dirigentes políticos.
E-Pá:

Foi desajustada a ida de Portas como sacristão.

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