Bancos nacionais: ‘o seu a seu dono’
As recentes prestações de contas dos bancos nacionais são absolutamente preocupantes sobre a solidez destas instituições financeiras portuguesas. Para além dos factos consumados do BPN, do BPP, do BES, do BANIF o ‘remanescente ‘ (bancário) mostra-se cada vez mais periclitante.
Apesar da taxas de juro absolutamente desfasadas com os referenciais do BCE, do corrupio das comissões e a prevalencia dos esquemas de amiguismo, compradrio e favoritismo (quando não da imprudência e negligência) no lidar com os dinheiros de outrem que, em princípio lhes foi de boa fé confiado, o balanço do 1º semestre do exercício das principais instituições bancárias nacionais link revela um ‘oceano de dificuldades’ (serão ‘imparidades’?) que as ‘justificações pontuais’ não têm efeito tranquilizador.
Na realidade, a instabilidade das instituições financeiras dura há demasiado tempo e os cidadãos, chamados recorrentemente a socorrer o sistema, têm sido mantidos à margem das explicações que se devem a qualquer ‘bom pagador’ de promessas dos outros (uns poucos). O arrazoado de justificações e desculpas esfarrapadas vem sempre envolto numa linguagem técnica subsidiária da indecifrável ‘novilíngua’ económico-financeira.
Existe a clara percepção de que os diagnósticos da ‘crise financeira’ estão feitos e repisados. Por outro lado, também existe a convicção de que o sistema está blindado e imune a qualquer mudança. Esta blindagem está para durar até que surjam convulsões políticas e sociais que alterem radicalmente a actual correlação de forças.
Apesar das consequências que todos os cidadãos conhecem, e sofrem na pele e no bolso, continuam a proliferar os offshores, os hedges-funds, os short-shellings, os swaps, etc. que têm corroído a credibilidade do sistema bancário.
A maioria dos cidadãos está de fora destas ‘engenharias financeiras’ e há muito que clama pela separação das águas entre as bancas comerciais e de depósitos e as bancas ditas de ‘investimentos’, onde cada dia se acumulam riscos sobre riscos, operações a descoberto, ‘imparidades’, falências (sob a eufemística designação de ‘resolução’) e, na sociedade (nos lares, nas ruas) começam a criar uma legião de ‘lesados’.
A crueza da vida e a verdade dos números tem demonstrado que a regulação (atribuída a autoridades bancárias centrais, de âmbito nacional, transnacionais ou federais), pura e simplesmente, não funciona. A alternativa – e convém recordar que há sempre alternativas – é derivar da perversão do actual sistema para a banca corporativa à volta de moedas complementares, a exemplo do Banco WIR (na ‘ortodoxa’ Suíça) link, que, apesar de um aparente primitivismo, conseguiu passar à ilharga das crises do sistema financeiro (desde 1929).
Em conclusão, resta cortar o mal pela raiz e à margem do sistema bancário tradicional deixar isolados, e por sua conta e risco, os ‘sistemas de casino’ que os ditos ‘investidores’ poderão frequentar livremente. Criar o ‘gueto dos especuladores’ e deixá-los entregues e confinados à sua ganância.
Isto é, devolver os ‘empreendedores financeiros’ a um ‘mercado livre’ que tanto incensam como motor obtuso de enriquecimento. Na gíria popular resume-se em: “dar o seu ao seu dono”.
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Junto a referência de um artigo que permite uma melhor compreensão de como tem funcionado - na Suíça dos banqueiros - o modelo de ‘antibanco’ - WIR link.