António Guterres / Durão Barroso: a vida e a servidão ou o trigo e o joio…
Notícias sobre o desenrolar do processo de escolha do próximo Secretário-Geral da ONU – situação em que António Guterres está envolvido link - fazem lembrar, por contraposição, Durão Barroso.
Os contrários têm tendência a correlacionar-se no fluir do pensamento. É a dialéctica.
No presente exercício de pensamento, aleatoriamente colocado num quadro comparativo, por inteiro arbítrio mecanismos de relação cerebrais, confrontam-se duas personalidades, com comportamentos diametralmente opostos.
Durão Barroso começa a sua longa carreira política nos bancos do Faculdade (Direito) e, depois de transmutações partidárias abruptas entre uma extrema-esquerda radical (MRPP) e uma direita vincadamente liberal (PSD), ‘salto’ nunca cabalmente esclarecido, nem ideologicamente clarificado, acabou por sobraçar a pasta dos ‘Negócios Estrangeiros’ e, depois de alguns escolhos partidários e de tentativas eleitorais, chegou a primeiro-ministro.
Na sequência dos ‘prestimosos serviços prestados nas funções governativas nacionais’ veio a desempenhar um cargo internacional (presidente da Comissão Europeia). Tratou-se de uma indisfarçável (nunca o ‘incomodou’) recompensa após se ter (apressadamente) prestado para desempenhar o subserviente papel de mordomo da Cimeira das Lajes, um escabroso e envergonhado portal atlântico, para uma arbitrária, facciosa e oportunista declaração de guerra ao Iraque.
Tudo se passou na sombra como, na escuridão dos ‘compromissos’, terá acontecido a sua indigitação para uma carreira europeia.
E lá foi o homem enviado (transferido?) para Bruxelas durante 10 anos. No término do exercício do alto cargo europeu, deixou a Europa institucional e política de rastos, uma Comissão Europeia eclipsada pelo Conselho Europeu e um projecto comum sem pernas para andar, mas apesar disso teve direito a um bónus suplementar – chairman da Goldman Sachs.
António Guterres que desde os bancos da Faculdade (Técnico) foi um militante do movimento social cristão, posteriormente aderiu ao PS, progrediu (com alguns sobressaltos) na hierarquia partidária acabando por ser um dos mais equilibrados e bem-sucedidos primeiros-ministros de Portugal.
Quando, no seu 2º. mandato como primeiro-ministro, perdeu a maioria na AR e, posteriormente, o seu partido foi derrotado nas eleições autárquicas, abandonou o poder pelo seu pé, porque a sua visão transparente da democracia e límpida de governar não permitia que viesse a enterrar-se no ‘pântano’ (político) que anteviu. Manteve-se discreto em Portugal mas em breve foi chamado para desempenhar, de acordo com o seu perfil humanista, um honroso e difícil cargo na ONU – Alto-Comissário para os Refugiados. Exerceu este cargo durante 10 anos e quando terminou funções tinha granjeado o respeito do Mundo. Mais uma vez resolve não se imiscuir na vida política nacional e aproveita os conhecimentos e o traquejo adquiridos nas funções internacionais para candidatar-se ao cargo de Secretário-Geral da ONU.
Aceitou, como fazem os homens da sua estirpe, submeter-se a um longo e difícil processo de triagem, ainda em curso. Se lá chegar (como muitos desejam) o mérito é todo seu e, será justo pensar, que não ficará a dever favores a ‘outros’.
Temos de constatar que qualquer percurso para o exercício as funções públicas (políticas) é uma caminhada acidentada, mas será justo salientar como se pode percorrê-la diferentemente.
Uns caminham de pé; outros, vão ajoelhados ou acocorados.
Enfim, posturas e feitios. Ou, como diria Guterres: – “É a vida”…
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