SÍRIA: tentando decifrar enigmas…
A opacidade da interminável guerra do Médio Oriente – de que a Síria é um dos expoentes mas não o único – adensa-se, diariamente.
Numa observação esquemática todos afirmam - não será bem assim - estar contra Daesh, Rússia e Irão a favor de regime de Damasco, EUA e Arábia saudita contra Bashar Al Assad. Uma autêntica ‘salada russa’.
Todas estas intervenções no enigmático teatro de operações regional, estão envoltas em disfarces e mentiras. De pouco vale protestar contra a transformação de povos – como é o caso dos sírios e dos curdos – em ‘carne para canhão’.
Raqqa, sede oficiosa do Estado islâmico, está sob fogo e, perscrutando as evoluções estratégicas para essa região, deverá cair, simultaneamente, com Alepo. Esta simultaneidade parece ser parte integrante dos jogos de força e diplomáticos.
A presença de forças militares norte-americanas (e britânicas) junto a Raqqa é conhecida desde Maio link e só espanta os inocentes. Bem como o envolvimento do exército persa no assalto a Alepo link .
Quer em Alepo link, quer em Raqqa link estão os curdos, não necessariamente do mesmo lado da barricada, mas são provavelmente um dos os únicos intervenientes que lutam por uma causa justa: o seu reconhecimento como povo e a necessidade de (re)fundar um Estado.
E no meio disto tudo – uma interminável guerra civil – qual as posições (e interesses) da Arábia Saudita e da Rússia?
Provavelmente terão um maior protagonismo (não menos violento) depois das ocupações de Raqqa e Alepo (batalhas ainda em curso).
A Arábia Saudita – com o apoio dos EUA e da Turquia (um outro oculto interveniente) – tem vorazes apetites políticos (satélites) que giram à volta de uma preponderância sunita na região em relação à Síria link.
O seu envolvimento contra o regime de Damasco não exclui uma invasão formal do território sírio para o que contaria com o apoio indirecto da NATO, através de um dos seus maiores e operacionais contingente de forças, terrestres, aéreas e navais – a Turquia.
A Rússia, para além dos interesses geoestratégicos no Mediterrâneo Oriental (base naval de Tartus e a base aérea de Hmeymin) que seriam seriamente afectados com a queda de Bashar Al Assad, os seus interesses são mais vastos e Moscovo não abdicará de jogar um papel decisivo nos equilíbrios políticos (e militares) no Médio Oriente link.
Para além disso, no campo económico, a Síria, dada a sua localização jogará necessariamente um papel importante no domínio energético, nomeadamente no traçado de ‘gasoductos’ link.
Seria oportuno dissecar as complexas relações inter-parceiros de todos os lados desta guerra civil, do papel de alvo principal que representa o Daesh e ao mesmo tempo um alibi intervencionista, bem como das ‘acções telecomandadas’, das organizações religiosas ou mercenárias, no terreno. Não há espaço num post para isso.
Por agora interessa compreender o que se passa – em termos genéricos – com os actores principais. E esta compreensão é tanto mais necessária quanto será verdade que dentro de algum tempo os portugueses (e outros ‘aliados’ da NATO) serão chamados a colaborar na prestação de ajuda humanitária a um país devastado.
E para isso – ou para julgar a justeza dessa presumível intervenção - existem conhecimentos mínimos que devem ser adquiridos, desde já.
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