Silly season – A Casa da Moeda e o fervor religioso

Os responsáveis pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, atentos aos anseios do País, tinham programado lançar uma moeda de dois euros com a efígie do Papa Francisco. A ideia de cunhar tal moeda devia merecer a severa condenação dos poderes públicos ou uma valente gargalhada, o que não aconteceu, por falta de ética republicana, no primeiro caso, ou de sentido de humor, no segundo.

A tentativa de cunhar uma moeda de 2 euros com a efígie do papa Francisco não nasceu na sacristia, surgiu num organismo do Estado onde o proselitismo religioso é descabido e a laicidade uma exigência legal. Valeu-nos a recusa do Vaticano e a condenação da deputada Isabel Moreira, para salvar o País da vergonha.

É de crer que, depois de uma moeda de 2 euros com o Papa, surgisse uma de 1 euro com o patriarca de Lisboa, outra de 50 cêntimos com o rabino de Lisboa e moedas de 20 e 10 cêntimos, para os trocos, respetivamente com o sheik Munir e um pastor da IURD.

Finalmente, a Casa da Moeda havia de querer cunhar uma moeda de ouro de 500 € com a imagem da Sr.ª de Fátima e, talvez de 1000, com o próprio Deus. Foi preciso travar a Administração.

A falta de pudor republicano e a iliteracia cívica produzem estas parvoíces.  Link

Comentários

e-pá! disse…
CE:

Não é propriamente a cunhagem de euros ornamentadas de motivos alegóricos (neste caso religiosos) que fazem espantar os cidadãos.
Em várias peregrinações papais isso tem sido feito por toda Europa. Há, quando consideramos este particular tipo de cunhagens onde se intercepta a crendice religiosa com expressão material (monetária), uma clara 'obsessão' polaca pelo 'seu' João , o vigésimo terceiro, da fratria pontifícia.

E antes disso, o 'mini-estado', criado por Mussolini, mandou cunhar uma moeda de euro com a esfinge de João Paulo, o segundo , rodeado das doze estrelas (os países membros da UE em 2001), numa sacra postura 'imperial' (pré-Vestefália) e, nessa altura, só a França, ingloriamente, protestou.

O que poderá estar em causa são outras moedas, de troca, por exemplo. Falta saber para essas escassas reservas de valor e/ou de 'de simbologia numismática', que 'trocas' estão por detrás ou, então, que baldrocas escondem..., para além das recorrentes violações nacionais à separação da Igreja do Estado.

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