À margem da tomada de posse de Donald Trump…

A tomada de posse de Donald Trump para além dos sustos e incertezas inerentes à ascensão de uma via populista marca prioritariamente o fim da atual ‘ordem mundial’. Existem descritos vários cenários arquitetados por eminentes pensadores mas a verdade é que ninguém conhece ou é capaz de discernir os caminhos do futuro.

O discurso de Xi Jinping em Davos deverá ser encarado como a primeira abordagem política do futuro. Recheado de insinuações, pleno de ‘supostas’ omissões e repleto de veladas orientações, vale tanto pelo que foi explicitamente dito como pelo que fica subentendido.
É uma realista análise da evolução do mundo pós queda do muro de Berlim que, uma vez assentada a poeira do fim da bipolarização corporizada pela ‘guerra fria’, caminha para uma ‘natural’ globalização, onde a 'pole position' deixou de estar assegurada e nem todos os países marcharão lado a lado. O presidente chinês, em Davos, considerou a globalização como inelutável e o “ resultado ‘natural’ da evolução científica”.

Mas hoje é bastante evidente que a queda do muro não marca exclusivamente a atual inquietação em relação ao futuro, nem carrega todas as consequências presentes. Na verdade, de arrasto, estão a desabar muito mais coisas. O declínio do império americano é uma delas.
Tal como o fim da I Guerra encerrou o ciclo do Império Britânico que durou quase um século (desde as guerras napoleónicas), cem anos depois a América assiste ao estertor da sua vocação imperial, na sequência da desagregação progressiva dos acordos de 1945 (Yalta), que a queda do muro (1989) inexoravelmente revogou, procedendo a uma nova repartição do Mundo, sob o manto de uma diáfana 'globalização', emergente na última conferência de Davos.

É esta conceção (ameaça) subconsciente que está consubstanciada na frase ‘América, novamente grande!’ e em grande medida ‘justifica’ (por desespero de causa) a eleição de Trump.

Finalmente, a Europa colocou-se à margem das decisões do futuro da política mundial. Condicionada por um Pacto de Estabilidade que não a deixa crescer, a braços com a incapacidade de gerir o problema dos refugiados causado pela intervenção ‘ocidental’ no Médio-Oriente, vítima predileta do fundamentalismo religioso, submersa na insegurança causada por uma onda de atos terroristas e a braços com o espectro de desagregação (Brexit), praticamente não se fez ouvir em Davos. Nos tempos mais próximos vai estar envolvida em questões internas e tentada a enveredar (em múltiplos atos eleitorais) pela via do populismo, correndo o risco de tornar-se um apêndice das políticas da nova administração Trump.

É no centro destas convulsões que Trump vai, hoje, encenar em Washington um simulacro de entronização imperial.
Donald, o último?

Comentários

e-pá! disse…
Adenda:

O discurso de posse de Donald Trump, violento, populista, nacionalista e protecionista confirma, em toda a linha, o ocaso de um Império.

O problema é que os todos os impérios acabaram por cair de podres após conturbados períodos de declínio, isto é, não sem antes conduzirem os (iludidos) povos a sangrentas batalhas (pela sobrevivência dos obscuros desígnios).

O 'Império Ocidental', liderado pelos EUA, corre os mesmos riscos (históricos, políticos, militares, estratégicos e comerciais).

Hoje, Trump, ao discursar nas escadas do Capitólio não fez mais do que confirmar as piores previsões.
Agostinho disse…
A América outra vez grande afigura-se-me uma figura de estilo de um figurão que inchou tanto que ficou irremediavelmente hirto que corre o sério risco de se desfazer em milhões de pedaços, tantos quantos aqueles que o apoiaram. Consigo, arrastará o seu próprio país para um processo de apagamento progressivo como aconteceu à imperial Inglaterra, como é referido na crónica, e quiçá ao desmembramento da propria União. Quem tanto promete e, sobretudo, o que e como promete só pode estar a pressagiar e pedir o desastre. Os sintomas do declínio de "Roma" remontam à guerra do Vietname.
Oxalá não escaqueire o mundo irremediavelmente.

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