Hungria – Requiem pela democracia

A terceira vitória consecutiva de Viktor Orbán não é um mero epifenómeno húngaro, é a prova reiterada de que não há regimes democráticos perpétuos e de que o despotismo pode vir através do voto, o único meio democrático para legitimar o poder.

Hungria, Chéquia, Polónia e Eslováquia dificilmente se podem considerar democracias e, a estes países, outros ameaçam juntar-se na deriva nacionalista e autoritária, a lembrar o advento do nazi-fascismo e da tragédia mundial que se seguiu.

Viktor Orbán foi hábil a explorar o medo e a xenofobia, mas não é o único responsável pelo desvio totalitário que estas eleições reforçaram, graças à alteração constitucional a que procedeu na primeira vitória e que agora permitiu à sua coligação, Fidesz-KDNP, com 48,48% dos votos. conquistar 134 dos 199 lugares do Parlamento, seguido do partido neonazi Jobbik com 19,54% dos votos e 25 deputados, deixando a coligação social-democrata MSZP-Dialogue reduzida a 20 lugares e 12,3% dos votos.

Para chegar aqui, começou com a condescendência, ou cumplicidade, do presidente da CE, Durão Barroso, e a benevolência do Partido Popular Europeu (PPE), a que Orbán pertence, e que não o impediu de submeter os Tribunais e aproximar-se dos governos autoritários da Rússia, Turquia e China, de quem está cada vez mais próximo, enquanto condena a União europeia e a sua cultura e se designa salvador da cultura cristã húngara contra a islamização da Europa.

Compreende-se que a extrema-direita exulte com os seus resultados eleitorais, mas é de reprovar o silêncio do PPE, que o vai cumprimentando com alguma vergonha, depois de alterar cinco vezes a Constituição a caminho da fusão do Estado e do partido que criou.

A Hungria é, para já, um offshore da liberdade e o seu líder um perigo para a União Europeia e para o próprio PPE que o ajudou a conquistar o poder.

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