O SNS e a direita
Quem votou contra o SNS e odeia o direito à saúde, universal e gratuito, quem tinha na caridade o modelo de assistência aos pobrezinhos e na iniciativa privada o sonho para os ricos, é quem mais reclama da ineficiência e da falta de meios para a assistência pública eficiente, que sempre detestou.
Claro que nem todos são hipócritas e perversos, mas há os idiotas úteis e os esquecidos do costume. O PSD e o CDS, que votaram contra a maior conquista do 25 de Abril, e a que mais beneficiou o país, surgem agora como paladinos do que sempre combateram.
É natural que, perante a aceitação generalizada e os benefícios da sua existência, possa a direita ter-se convertido à defesa do SNS, mas exige-se a declaração pública de repúdio do voto contra, para ser considerada honesta a legítima exigência de mais recursos, dos recursos que negou sempre que foi governo.
Não basta colocar no horário nobre das televisões as deficiências, tratar o sarampo como aterradora epidemia, filmar serviços de Urgência em alturas de gripe ou eleger bactérias para os noticiários.
A defesa da dedicação exclusiva dos profissionais de saúde e o combate ao parasitismo, de que o SNS é alvo, por privados e instituições pias, são obrigações éticas e cívicas de quem defende, de facto, um serviço de saúde de qualidade e acessível a todos.
Há inimigos que o SNS dispensa, a demagogia à sua volta e os falsos amigos, ansiosos pela ruína que permita aos ricos um serviço de qualidade e aos pobres a caridade das Misericórdias.
A manha e dissimulação de uma direita que recorre à hipocrisia deve ser denunciada.
Comentários
Contudo, nada é ocasional, estúpido ou despropositado.
E esse agendamento faz sentido se tivermos presente uma frase produzida por uma representante dos interesses do grande capital na Saúde (a então ‘Espirito Santo Saúde’) quando afirmou que a Saúde "...é um dos maiores negócios ao nível mundial (...só ficando atrás da industria de armamento!...”, Engª. Isabel Vaz, Telejornal 18.04 2007 link.
Na verdade, o súbito interesse do PSD pelo sector da Saúde – como aliás em outros terrenos do chamado ‘Estado Social’ - é um pouco gato escondido com o rabo de fora.
Para os mais desatentos seria bom valorizar a expressão que a ‘turbe laranja’ usa para se referir a este assunto: Sistema Nacional de Saúde. Não existe descuido, é mesmo ‘sistema’ porque, na verdade, encerra outros conceitos e tem outros alcances.
Trata-se da mesma sigla – SNS - mas na vertente (concepção) da Direita refere-se a um sistema empresarial com todas as nuances 'de negócio', de parcerias, privatizações, ‘stakeholders’ (Rui Rio anunciou: "A situação do sistema nacional de Saúde carece de uma reforma, não digo que seja tão profunda quanto a Justiça, mas carece de uma reforma", JN 21.04.2018 link).
Por outro (ou do outro) lado (da Esquerda), a mesma sigla diz respeito ao SNS - Serviço Nacional de Saúde – isto é refere-se a um serviço público, universal, equitativo e [tendencialmente] gratuito, onde o espaço para as ‘negociatas’ fica seriamente comprometido.
Todavia, existe alguma imprecisão nesta imputação. Na verdade, o problema vem mais de trás. Começou quando na revisão constitucional de 1989 e se substituiu (com o agrément do PS) a qualificação de ‘gratuito’ por ‘tendencialmente gratuito’. Mas isso, é outro assunto (mais vasto).