Sintra e a sua mesquita

Sei da minha irrelevância na formação da opinião pública, mas o silêncio é o perigo que ameaça a ausência de opinião, o narcótico que anestesia as consciências, a cumplicidade que permite as iniquidades.

Não tenho o monopólio da verdade. Aceito, em teoria, que seja melhor a opinião oposta, mas se não expuser a minha arrisco-me a que vença a única que é expressa. Entendo que é um dever cívico pronunciar-me sobre o que acontece no mundo e, sobretudo, no meu País.

Depois de Lisboa é em Sintra que vai ser construída uma nova mesquita, cuja Câmara cedeu o terreno onde irá ser erigido um Centro Comunitário com Mesquita, com 7141 metros quadrados.

Não é o direito à construção de um templo que está em causa, é o roubo do património público a favor de uma crença particular, é a apropriação de um bem coletivo por uma associação pia.

Num país cuja Constituição estabelece de forma irrevogável a separação das Igrejas e do Estado não se percebe que instituições religiosas gozem de isenções fiscais, recebam terrenos, dinheiro, heranças e se permita que a escola pública sirva para evangelização com professores pagos pelo erário público.

A Concordata assinada por Durão Barroso é uma afronta à autoridade do Estado e uma cedência que transforma Portugal em protetorado do Vaticano. A presença do clero nas cerimónias públicas converte o Estado e as autarquias em sacristias.

É evidente que o tratamento igual para todas as religiões levaria a que o Islão exigisse o mesmo tratamento da Igreja católica e não foi surpresa saber do regozijo do sheik David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, na cerimónia de início das obras em Sintra, em vez de saber o que sucedeu ao processo onde foi acusado de maus tratos à mulher.

O catolicismo é hoje tolerante, mas isso deve-se á repressão política sobre o clero e não à virtude intrínseca da religião. Não se pode dizer o mesmo do Islão cuja deriva fascista e carácter totalitário é uma realidade de que as primeiras vítimas são os muçulmanos.

O Estado fica sem meios, e sem terrenos, ao trair a laicidade e não submeter as religiões a um tratamento igual ao de qualquer outra associação. Um dia, amargamente, serão os católicos a compreender a virtude da laicidade que aceitam com reservas.

«L'État chez lui, l’Église chez elle». “O Estado na sua casa e a Igreja em casa dela”. Um dia, as palavras pronunciadas por Vítor Hugo, em 14 de janeiro de 1850, no Parlamento francês, ressoarão tarde nos ouvidos de beatos, tímidos e idiotas que cedem à tentação de entregar o que é de César aos funcionários dos deuses que surgem.

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