Agitação social e incertezas
Ai de quem cala o que sente e pensa, e diz o que julga que os outros gostam, mas pior é deixar-se manietar por constrangimentos sociais, calar-se por medo, deixar de abordar assuntos incómodos ou potencialmente geradores de crispação.
Quem emite opiniões tem o indeclinável dever de estar convencido de que as suas são as melhores, e deve estar disponível para aceitar que as opiniões contrárias podem ser tão razoáveis quanto as suas.
Há verdades que se calam para não desagradar, mentiras que não se contestam para não ofender, preconceitos que se toleram por comodidade. Numa sociedade democrática é a afirmação de todos e de cada um que forma o pensamento coletivo, e mal vai quando os que intervêm no espaço público se coíbem de abordar os temas incómodos. A opinião pública é a síntese dialética da opinião de todos, enquanto a opinião publicada é a que interessa a quem detém os órgãos de comunicação social e a quem os controla.
Tenho pensado muito na agitação social que irrompeu no País e na desfaçatez com que os responsáveis de muitas injustiças tomam a vanguarda na exigência da sua reparação.
Todas as greves admitidas no ordenamento jurídico português são legítimas, mas nem todas são justas e não faltam casos de oportunismo, de estratégias partidárias e de meras invejas profissionais.
Não conheço suficientemente cada sector profissional para fazer a destrinça, mas vejo a manipulação das Ordens a substituírem-se aos sindicatos e o aventureirismo das greves que não são mediadas por forças políticas responsáveis ou as que estas acabam a apoiar, para não perderem o comboio dos votos nas eleições que hão de vir.
Há uma turbulência desproporcionada que parece indiferente aos esforços do Governo quando comparado com a governação anterior, mas o regresso numa versão pior, a que darão origem, parece ser indiferente a muitos ativistas.
Há quem esqueça que o bem-estar relativo de que gozamos se deve à pobreza de outros países e à fome de milhões de pessoas, que a qualificação académica e profissional, que permite maior capacidade reivindicativa a alguns, se deve a escolas que todos pagamos, que a legítima melhoria que cada um pretende se faz com prejuízo de alguém.
Ninguém pensa no dinheiro que o País pede para manter a economia a funcionar e que o Orçamento não é elástico e que os credores avaliam os riscos. Mas será possível atender todas as greves sem arruinar o País?
Lembro-me de uma greve, assaz justa, no Reino Unido. Foi feita com notável coragem e determinação por mineiros cuja profissão era penosa e escassamente remunerada. Foi a perda dessa greve que originou vagas de desemprego, tragédias familiares, pobreza e o encerramento das minas.
A apoteose da insensibilidade social e a vingança teve na Sr.ª Thatcher a protagonista da regressão dos direitos dos trabalhadores de um lado e do outro do Canal da Mancha.
É a vida. E ninguém se recorda.
Quem emite opiniões tem o indeclinável dever de estar convencido de que as suas são as melhores, e deve estar disponível para aceitar que as opiniões contrárias podem ser tão razoáveis quanto as suas.
Há verdades que se calam para não desagradar, mentiras que não se contestam para não ofender, preconceitos que se toleram por comodidade. Numa sociedade democrática é a afirmação de todos e de cada um que forma o pensamento coletivo, e mal vai quando os que intervêm no espaço público se coíbem de abordar os temas incómodos. A opinião pública é a síntese dialética da opinião de todos, enquanto a opinião publicada é a que interessa a quem detém os órgãos de comunicação social e a quem os controla.
Tenho pensado muito na agitação social que irrompeu no País e na desfaçatez com que os responsáveis de muitas injustiças tomam a vanguarda na exigência da sua reparação.
Todas as greves admitidas no ordenamento jurídico português são legítimas, mas nem todas são justas e não faltam casos de oportunismo, de estratégias partidárias e de meras invejas profissionais.
Não conheço suficientemente cada sector profissional para fazer a destrinça, mas vejo a manipulação das Ordens a substituírem-se aos sindicatos e o aventureirismo das greves que não são mediadas por forças políticas responsáveis ou as que estas acabam a apoiar, para não perderem o comboio dos votos nas eleições que hão de vir.
Há uma turbulência desproporcionada que parece indiferente aos esforços do Governo quando comparado com a governação anterior, mas o regresso numa versão pior, a que darão origem, parece ser indiferente a muitos ativistas.
Há quem esqueça que o bem-estar relativo de que gozamos se deve à pobreza de outros países e à fome de milhões de pessoas, que a qualificação académica e profissional, que permite maior capacidade reivindicativa a alguns, se deve a escolas que todos pagamos, que a legítima melhoria que cada um pretende se faz com prejuízo de alguém.
Ninguém pensa no dinheiro que o País pede para manter a economia a funcionar e que o Orçamento não é elástico e que os credores avaliam os riscos. Mas será possível atender todas as greves sem arruinar o País?
Lembro-me de uma greve, assaz justa, no Reino Unido. Foi feita com notável coragem e determinação por mineiros cuja profissão era penosa e escassamente remunerada. Foi a perda dessa greve que originou vagas de desemprego, tragédias familiares, pobreza e o encerramento das minas.
A apoteose da insensibilidade social e a vingança teve na Sr.ª Thatcher a protagonista da regressão dos direitos dos trabalhadores de um lado e do outro do Canal da Mancha.
É a vida. E ninguém se recorda.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Não foi o facto de os mineiros decretarem uma greve mais do que justa, mas a violência do capital representado por Thatcher e as traições do Labour liderado por Neil Kinnock e até de sindicatos representados na União Nacional dos Mineiros que 'mataram' o movimento sindical.
O problema que se vem arrastando desde então (anos 80) é que as greves deixaram de ser uma consequência directa da luta de classes para aparecerem como sendo reivindicações abusivas e oportunistas.
Embora, ainda tolerando as greves, muito do liberalismo vigente (oficial, oficioso ou camuflado), vai fazendo uma insidiosa campanha para considerarem as lutas sindicais como anti-sociais.
Por alguma razão os Trabalhistas ingleses descartaram-se da 3º. via de Blair e elegeram como líder alguém que tinha sólidos créditos na Esquerda - Jeremy Corbyn.
Hoje, já quase sem greves, a Grã-Bretanha entretém-se a difamar Corbyn.
Destruido o movimento sindical a nova aposta neoliberal é 'apagar' os Trabalhistas. O 'sistema' continua em surdina a impor o 'não há alternativa'. O Brexit tem fornecido um manancial de exemplos acerca destas estratégias.
O Reino Unido é uma velha democracia. Continua a dar-nos 'exemplos' que vamos tendo dificuldade em assimilar.
Mas, mais difícil será avaliar os erros para não cair na mesmo esparrela.