Guarda – Cidade Natal

O pio autarca, Álvaro Amaro, decidiu que entre 1 e 25 de dezembro deste ano a Guarda seja “cidade Natal”. O Jornal do Fundão, desta semana, diz que é uma reincidência, com comunicado, onde o edil declara que “a Guarda brilha mais alto com a cidade Natal”, um slogan capaz de erguer presépios em cada esquina e atrair turistas a todos os becos.

A ideia não é original, já Fernando Ruas, há anos, proclamou Viseu “capital do Natal”, o que hilariou autóctones e forasteiros. Álvaro Amaro, mais modesto, retirou a “capital” à lucubração litúrgica, e manteve o brilho das boas ideias com um slogan à sua altura.
O grande timoneiro teve uma ideia brilhante e, ao contrário do poeta, “Natal é quando um homem quiser”, decidiu amputar seis dias ao mês do Natal das gentes cristãs.

Se a fúria litúrgica for contagiosa, como a gripe ou a tuberculose, os autarcas do distrito correm atrás dos rituais e teremos Seia, cidade da Páscoa; Gouveia, cidade do Advento; Pinhel, cidade da Quaresma; Sabugal, cidade da Semana Santa; e, esgotados os tempos litúrgicos, as outras autarquias confiscam as festividades cristológicas.

Meda será a cidade da Epifania; Sabugal, cidade do Batismo do Senhor; Foz-Coa, cidade da Apresentação do Senhor; Trancoso, cidade d’A Ascensão do Senhor; Fornos de Algodres, vila do Pentecostes; Aguiar da Beira, vila da Santíssima Trindade; Celorico da Beira, vila do Sagrado Coração de Jesus; Figueira de Castelo Rodrigo, vila do Cristo Rei; ficando a minha querida Almeida, a vila do Corpus Christi.
Ámen.

Apostila – Aproveitei para recordar aos meus leitores mais pios os tempos litúrgicos e as festas cristológicas que as minhas catequistas me ensinaram, por entre terrores do Inferno e ameaças de tuberculose e cegueira originadas por pecados que ignorava ainda.

Comentários

e-pá! disse…
O autarca da Guarda é mais um exemplo do envolvimento das pessoas em acções de marketing e promoção de festividades. Não é caso único! Sempre tivemos 'festeiros', mordomos e, já agora, servos da gleba.

O Natal sendo um período de negócio à volta de ilusões e solidariedades 'encomendadas', umas datadas outras alimentadas (resta saber por quem), tornou necessário acertar o passo e estar em concordância com abundantes promoções.

Todos verificamos com espanto o rebuliço do 'Black Friday' que, ultrapassou a voragem, os congestionamentos e atropelos nas terras do tio Sam onde nasceu, disseminou-se pelo Mundo e lançou os consumidores numa correria desenfreada e algumas vezes mortal (que justifica o epiteto de 'negra').

Ingenuamente, poderíamos pensar se revivia com maior intensidade numa situação que é quase tradicional (as ancestrais 'rebaixas do Natal' ou, noutros casos, do 'Ano Novo') e que estamos a acertar o passo com o 'calendário americano', isto é, gravitando à volta da yankee celebração do "Thanksgiving Day", onde se comemoram e exaltam os (profanos) êxitos da 'american way of life'.

Deveríamos, contudo, interrogar-nos sobre a razão deste tipo de 'promoções' e porque se tenta estabelecer uma linha de partida para o arranque de uma desenfreada corrida ao consumo numa especifica estação do ano.
Na Antiguidade esta época foi de festejos - as celebrações do solstício de Inverno - passou a ser colonizada pela religião à volta de um transcendental conceito mítica Natividade (repleta de laivos messiânicos) e, nos tempos que correm, está a escorregar para as mãos de uma 'Global Trade Union'.
Um curioso percurso...

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