Já lá Moro
Não duvido da grave corrupção que grassa no Brasil nem do sistema constitucional que a favorece, ou do nível de cumplicidade do PT na decadência ética da política. Duvido, no entanto, que Dilma Rousseff fosse corrupta e a sua destituição não passasse de mera conjura de partidos igualmente corruptos e juízes venais para destruir o PT.
Há tendência para tolerarmos todas as infâmias, quando atingem os nossos adversários, e atribuirmos a intriga política o julgamento dos nossos correligionários. Procuro que os afetos não me influenciem, mas dificilmente consigo a imparcialidade que procuro.
No Brasil, surpreendeu-me ver tão rapidamente acusado, julgado, preso e impedido de votar Lula da Silva, na sequência das sondagens que o davam como claro vencedor das eleições. O juiz que foi rápido a aceitar o ‘testemunho de um arrependido’, para o incriminar, não se tinha coibido de autorizar, ao arrepio da lei, escutas à Presidente da República.
Podia ser um entusiasta da defesa da honra da República e da honestidade nas funções públicas, mas a interrupção de férias para impedir a libertação do preso, ordenada por um tribunal superior, deixou a suspeita de militância partidária, sendo difícil tratar-se de um psicopata desejoso de consideração social.
O juiz Sérgio Moro, apesar de ligado ao partido de Jair Bolsonaro, e de arredondar um chorudo vencimento e obscenas mordomias com o subsídio de habitação, numa cidade onde tem casa própria, podia ser uma pessoa de grande honestidade e sólidos princípios éticos, apesar dos aparentes atropelos jurídicos.
Porém, ao aceitar o pagamento dos serviços prestados a um defensor da tortura contra os adversários políticos, apologista da perseguição das minorias, misógino e boçal, ao aceitar uma de duas gratificações propostas pelo fascista, o superministério ou um lugar de juiz do Supremo, Sérgio Moro revelou a sua leveza ética e a indignidade cívica de que é capaz.
Sempre julguei que a honra de um juiz brasileiro salvasse as aparências.
Em Portugal, onde Paulo Portas, condecorado pelo governo de Dilma Rousseff, não viu, nos 27 anos de vida política de Bolsonaro nada “eticamente reprovável”, e o ex-ministro do CDS Luís Nobre Guedes votaria nele, e a Dr.ª Cristas, na hesitação, se absteria, fico com a impressão reforçada de que está em curso uma conspiração de extrema-direita a nível internacional, como muitos democratas já pressentiram.
O ministro Moro é um serventuário pusilânime dessa conjura para cuja resistência minguam forças democráticas suficientes. A justiça nunca lhe interessou e, por isso, não se importa de a aviltar.
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