CDS e acidente de Borba: a chicana política e a ida às ginjas…
A demagogia encontrou nos tempos recentes um(a) arauto(a) inexcedível. Assunção Cristas – mais uma vez – aparece a comentar um fatal acidente que sacudiu o País com a recorrente expressão: o Estado falhou! link.
A capacidade de análise desta líder da Direita é deveras impressionante. Passa rapidamente das funções do Estado para a acusação ao Governo. Varreu-se-lhe da memória que pertenceu a um Governo onde a situação de conflito existente entre as pedreiras de mármore e a estrada que liga (ligava) Borba a Vila Viçosa estava lá. Aliás, segundo se pode apurar, estas pedreiras (as que marginalizam a estrada no local do acidente) existem há mais de 60 anos, embora de início as escavações tenham sido concebidas para uma menor profundidade, o que poderá fazer a diferença.
Mas segundo se refere alguma imprensa o alerta sobre os riscos de colapso da estrada Borba-Vila Viçosa datam de há 4 anos link.
Onde estava Assunção Cristas há 4 anos?
Na mesma senda de demagogia o CDS, pela voz de Nuno Magalhães, veio solicitar ao ministério do Planeamento e Infraestruturas a divulgação da “lista de infraestruturas consideradas de risco” bem como, se existirem (esta condicionante é verdadeiramente hipócrita), os “planos associados a estas infraestruturas” link.
Sem querer antecipar uma resposta será pouco prudente isentar de riscos qualquer infraestrutura edificada dado o conjunto de variáveis estão envolvidas e que conferem um elevado grau de imprevisibilidade quanto à resistência no tempo pelo que a lista solicitada pelo CDS seria tecnicamente infindável.
O que O CDS está a protagonizar é, sem tirar nem pôr, a arte da ‘chicana política’ no seu mais descabido e inconsequente esplendor. Seria bom rebuscar os arquivos do governo anterior e verificar se tal lista alguma vez existiu ou se a posição do partido da Srª. Cristas não passa de uma pura jactância.
Mas falando de política e resumindo as coisas – na realidade muito mais complexas – o que os portugueses constatam é que nos últimos anos andamos ‘entretidos’ a conservar, restaurar e ‘salvar’ o sistema financeiro e o Estado (nomeadamente o Social) foi abandonado à sua sorte. Estamos a pagar o preço desta opção que, nos tempos em que a Srª. Assunção Cristas exerceu responsabilidades governamentais, atingiu uma violenta e burlesca expressão de contração (menos Estado, melhor Estado!), ditada por opções ideológicas que hoje está escondida por detrás de arremedos de uma omnipresente fiscalização (à posteriori).
Mas os portugueses podem esperar mais e pior. Não deverá tardar o dia em que o CDS venha a terreiro propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre este assunto. A descredibilização do regime (e não só do Estado) faz o CDS mover-se deste modo e a estratégia (na verdade o estratagema) de que tudo o que a ‘geringonça’ vai fazendo, remendando ou revertendo já tinha começado a ser feito no malogrado Governo Passos/Portas ou, quando inovador (renovador) está errada, ou faltosa, ou eventualmente catastrófica (o 'diabo' em movimento...).
Para o ‘assalto ao Estado’, que a Direita não dispensa para exercer o Poder, tudo começa pela divulgação de um ‘Estado falhado’.
Uma vez assaltado o Estado e consolidadas as posições no seu aparelho a Direita rapidamente transforma o Estado ‘falhado’ num feroz instrumento de repressão e extorsão (que não se distrai, nem falha).
Uma velha tática em progressiva e recente expansão pelo Ocidente, sob a batuta de uma multifacetada e orquestrada manipulação ultraconservadora e nacionalista, mas que ‘conhecemos de ginjeira’ (para usar uma expressão popular - rural).
PS - O grave acidente ocorrido na estrada municipal que liga Borba a Vila Viçosa não deixa de ser mais um indício de que a aposta no investimento público é uma urgente necessidade. Numa altura em que ainda se discute o OE2109 deveria ser um argumento para fazer repensar essa gritante necessidade e tomar medidas em conformidade (não com a chicana do CDS mas de acordo com o modo de estar da Esquerda perante estas situações).
Comentários
1989? Não lhe terá dito nada?