A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) à beira de um novo cisma
A alegada luta entre Bento XVI (B16) e Francisco (F1) é apenas a ponta do iceberg que emerge depois do funesto pontificado de JP2, que os corifeus da direita mais reacionária incensaram, e da continuidade de um papa muito mais inteligente e arguto, que o temor da Cúria fez abdicar da tiara sem renunciar às crenças.
O cardeal guineense Robert Sarah, que JP2 nomeou arcebispo aos 34 anos, é um clérigo profundamente reacionário. Foi apoiado pela ala mais retrógrada dos cardeais para ser o primeiro papa negro, mas um discreto jesuíta atravessou-se nos seus desígnios.
Quem vê a Igreja católica sul-americana, com bispos progressistas, em contraste com o clero espanhol, italiano, húngaro, polaco, austríaco ou francês, percebe que não há só a luta pelo poder, mas um confronto ideológico que passa pela sociedade profana, onde se jogam posições geoestratégicas e a consolidação de uma direita neoliberal e fascistoide, que conquistou os EUA e grassa em numerosos países europeus.
Francisco foi a pomba caída no ninho de falcões que povoam o antro do Vaticano e que veem o seu poder esvaziado e as posições reacionárias postas em xeque.
Robert Sarah, de 74 anos, cardeal desde 2010, encabeça o movimento conservador que encontra neste Papa um obstáculo que urge remover e a que não são indiferentes a atual presidência americana e os seus aliados mundiais.
Não é por retirar o seu nome de um livro que B16 deixa de legitimar a autenticidade das crenças que perfilha e colidem com as do sucessor, nem de conscientemente o fragilizar.
Francisco é hoje o único líder religioso preocupado com a paz, o respeito pelo ambiente, as alterações climáticas e a defesa da liberdade religiosa e dos direitos humanos.
A guerra entre B16 e F1 é a metáfora da religião que podia ser a referência dos crentes humanistas, ora dividida no confronto entre o tradicionalismo de um alemão que não se rende e um argentino que o poupou, cada um com os seus partidários.
Em Itália, segundo uma sondagem, são em maior número os bispos que apoiam Salvini, líder de extrema-direita, do que o Papa que os cardeais elegeram alumiados pelo Divino Espírito Santo. O que os divide não é Deus, essa criação humana que podia ter sido boa ideia e se converteu em pesadelo, mas as opções políticas e as alianças geoestratégicas.
B16 e F1 são dois clérigos com rara inteligência e enorme cultura. Ambos têm a noção de que podem destruir a Igreja, e nenhum capitula, embora só F1 tenha a legitimidade para fazer doutrina. O primeiro perdeu a infalibilidade quando a preservação da vida se sobrepôs à continuidade no cargo, e a infalibilidade é um dogma de Pio IX, deixado em herança, e em que nenhum deles acredita. Só crentes do tipo da Aura Miguel ou do João César das Neves são capazes de defender tal anacronismo na luta entre infalíveis.
Nas alfurjas do Vaticano e nas sucursais espalhadas pelo mundo trava-se uma luta surda entre a tradição e a modernidade. O ruído é o grito de desespero dos que temem perder o próximo conclave apesar da tentativa que se adivinha para comprar votos cardinalícios e os favores de uma entidade em vias de extinção, o Divino Espírito Santo.
Apostila – O autor é ateu.
O cardeal guineense Robert Sarah, que JP2 nomeou arcebispo aos 34 anos, é um clérigo profundamente reacionário. Foi apoiado pela ala mais retrógrada dos cardeais para ser o primeiro papa negro, mas um discreto jesuíta atravessou-se nos seus desígnios.
Quem vê a Igreja católica sul-americana, com bispos progressistas, em contraste com o clero espanhol, italiano, húngaro, polaco, austríaco ou francês, percebe que não há só a luta pelo poder, mas um confronto ideológico que passa pela sociedade profana, onde se jogam posições geoestratégicas e a consolidação de uma direita neoliberal e fascistoide, que conquistou os EUA e grassa em numerosos países europeus.
Francisco foi a pomba caída no ninho de falcões que povoam o antro do Vaticano e que veem o seu poder esvaziado e as posições reacionárias postas em xeque.
Robert Sarah, de 74 anos, cardeal desde 2010, encabeça o movimento conservador que encontra neste Papa um obstáculo que urge remover e a que não são indiferentes a atual presidência americana e os seus aliados mundiais.
Não é por retirar o seu nome de um livro que B16 deixa de legitimar a autenticidade das crenças que perfilha e colidem com as do sucessor, nem de conscientemente o fragilizar.
Francisco é hoje o único líder religioso preocupado com a paz, o respeito pelo ambiente, as alterações climáticas e a defesa da liberdade religiosa e dos direitos humanos.
A guerra entre B16 e F1 é a metáfora da religião que podia ser a referência dos crentes humanistas, ora dividida no confronto entre o tradicionalismo de um alemão que não se rende e um argentino que o poupou, cada um com os seus partidários.
Em Itália, segundo uma sondagem, são em maior número os bispos que apoiam Salvini, líder de extrema-direita, do que o Papa que os cardeais elegeram alumiados pelo Divino Espírito Santo. O que os divide não é Deus, essa criação humana que podia ter sido boa ideia e se converteu em pesadelo, mas as opções políticas e as alianças geoestratégicas.
B16 e F1 são dois clérigos com rara inteligência e enorme cultura. Ambos têm a noção de que podem destruir a Igreja, e nenhum capitula, embora só F1 tenha a legitimidade para fazer doutrina. O primeiro perdeu a infalibilidade quando a preservação da vida se sobrepôs à continuidade no cargo, e a infalibilidade é um dogma de Pio IX, deixado em herança, e em que nenhum deles acredita. Só crentes do tipo da Aura Miguel ou do João César das Neves são capazes de defender tal anacronismo na luta entre infalíveis.
Nas alfurjas do Vaticano e nas sucursais espalhadas pelo mundo trava-se uma luta surda entre a tradição e a modernidade. O ruído é o grito de desespero dos que temem perder o próximo conclave apesar da tentativa que se adivinha para comprar votos cardinalícios e os favores de uma entidade em vias de extinção, o Divino Espírito Santo.
Apostila – O autor é ateu.
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