A vitória de Rui Rio e o PSD

A vitória esperada de Rui Rio é mais uma derrota para Cavaco, Passos Coelho, Miguel Relvas, Marco António e Maria Luís.

Montenegro teve melhor imprensa do que Rui Rio, tal como, há anos, Francisco Assis em relação a António Costa. Enquanto der jeito à direita mais à direita, os adversários têm a comunicação social à disposição, e equiparar Rui Rio a Montenegro é comparar António Costa a Passos Coelho, Mário Centeno a Maria Luís e Sampaio a Cavaco.

Rui Rio é um político que prefere a genuinidade de se apresentar como é, com os seus méritos e debilidades, à hipocrisia de imitar os adversários, que escondem a vacuidade de ideias, a leveza ética e a avidez do poder.

Dito isto, a vitória de Rui Rio é o pior que acontece à esquerda. O ciclo político, que lhe é desfavorável, torna precária a vitória, e a alternância, que será tanto mais rápida quanto maiores forem as lutas fratricidas da esquerda e as dificuldades da economia mundial, vão encontrar a direita radical no PSD. O País já esqueceu os quatro anos ampliados por Cavaco a Passos Coelho. Não é o velho salazarista que regressa ou os seus Roteiros que serão lidos, é o seu azedume e ressentimento que transfere para a tralha que apadrinhou.

Não haja ilusões, a direita tem apoios internos e externos com que a esquerda não pode competir. Quando o ciclo eleitoral se inverter, com a esquerda a digladiar-se entre si, não é Rui Rio que estará à frente dos destinos do País, é a direita radical que regressa do caixote do lixo para a ribalta.

Rui Rio voltou a derrotar o vazio intelectual, a leveza ética e os ácidos reacionários que fizeram do País, durante a legislatura, um laboratório de experimentação neoliberal para a qual nem sequer tinham preparação académica ou experiência profissional.

A vitória de hoje de Rui Rio é o prenúncio de um regresso onde o Dr. Miguel Relvas e o ora catedrático Passos Coelho serão figuras de referência, mas rejubilei, não tanto pela vitória que lhe sorriu, mas pela derrota que infligiu. Aliás, a vitória de 53% contra 47% é uma vitória de Pirro.

O PSD é imprescindível à democracia e ao País e só a extrema-direita beneficiará com o regresso da anterior liderança contra a qual não está vacinado.

Comentários

Jaime Santos disse…
A vitória de Rio é sempre melhor para o País. Uma viragem do PSD à Direita seguida de uma crise política para o ano, depois das autárquicas, poderia facilmente guindar Montenegro e os seus ao poder. Prefiro nesse caso que seja Rio, que mau grado os tiques autoritários, é um homem sério e genuíno, a tomar as rédeas do País.

Não me parece de todo que esperar que um consulado de Montenegro servisse de vacina ao PSD fosse a atitude correcta. A coisa poderia funcionar. Olhe o que aconteceu a Johnson, cuja passagem pelo Foreign Office fazia esperar o pior... E Bush era um idiota e acabou a invadir o Iraque...

Agora, se Rio falhar, claro que a próxima leva passará pelo regresso ao Passismo ou a algo pior (talvez uma versão do filistinismo cavaquista pior do que o original com laivos fascistas à mistura). Mas a derrota de Rio será a vitória da Esquerda e se tal acontecer, la nave va...
Jaime Santos:

Pois eu penso que é assim que Montenegro chega ao poder, depois de o PSD perder eleições que precedem as legislativas ou de legislativas antecipadas. Depois de uma derrota de Rui Rio, que Montenegro teria maior, é a sua vez de conquistar o partido e estar na liderança quando o ciclo eleitoral se inverter.

Esta é a minha opinião, tão válida como uma diferente.
Jaime Santos disse…
Montenegro já perdeu duas vezes e é agora uma carta fora do baralho, que não entusiasma ninguém. O sucessor de Rui Rio será alguém como Moreira da Silva ou Carlos Moedas, mais à direita do que ele, e muito mais inteligentes que Montenegro...

Esta, claro, é tão só a minha opinião, tão válida como a sua...
Essa do Moedas convence-me. É a carta na manga de Marcelo.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides