A Justiça e o Ministério Público (MP)

Cabe aos legisladores resolver a intolerável situação a que a Justiça chegou, refém do ativismo aparentemente motivado politicamente de alguns procuradores do MP.  

A campanha insidiosa que anda aí nos meios reacionários contra o manifesto de cinquenta cidadãos ilustres preocupados com o estado a que a Justiça chegou, merece reparos e precisa de ser desmascarada. Há uma notória tentativa de manter o status quo. 

A primeira acusação é a de que são os políticos que pretendem condicionar a Justiça, indiferentes a que os magistrados condicionem as decisões políticas, sem que se perceba se é a ilicitude que os move ou o direito a que se arrogam de julgar decisões legítimas.

A mais insidiosa é o aproveitamento da consternação pela morte da anterior PGR para a enaltecer e insinuar que a mudança do/a titular do cargo resolverá os problemas, o que é manifestamente falso, mas que passa de contrabando perante o luto.

Recordo que os problemas se agravaram no mandato da ora falecida Joana Vidal que a direita, após desacreditar todos os anteriores, quis reconduzir no cargo. Foram então arquivados os processos da compra de Submarinos e da apropriação de fundos da UE pela Tecnoforma, por falta de provas, e com provas produzidas na UE e na Alemanha respetivamente. E assistiu-se a grosseiras violações do segredo de justiça com os media a julgarem na praça pública políticos que nem sequer viriam a ser objeto de acusação.

O ministério Público fracassa a obter condenações, e obtém assinalável êxito a destruir carreiras políticas e a promover o descrédito dos que a Justiça acaba por inocentar.

Não é normal que, a pedido do Ministério Público, os juízes de instrução a quem cabia a defesa dos direitos e liberdades dos arguidos fossem os autores de assassinatos políticos com as televisões atrás a filmar os linchamentos. Que interesses ditaram os espetáculos degradantes das prisões de Sócrates e Paulo Pedroso ou da devassa a casa de Rui Rio?

Dizem que os políticos querem fazer nomeações políticas, o que é verdade. Mas quando deixaram de o fazer? Como, aliás, a própria justiça e as suas leis. O que sucede é que as duas últimas PGR, ao contrário dos anteriores, se distinguiram negativamente. As nomeadas por Cavaco e Marcelo foram as que mais permitiram a degradação.

Se continuarmos a aceitar como normal a prisão para investigação e impulsos justiceiros de juízes de instrução, alheios aos direitos das vítimas, só porque não gostamos delas, aceitamos que se tornem regra as exceções e sejam confiscados os direitos dos arguidos.

Em Portugal, uma imprensa ávida de heróis e farta de fazer dos políticos vilões, enaltece juízes banais, cidadãos medíocres, ávidos de consideração social. Não é por acaso que a extrema-direita cavalga essa onda.

Um deputado do Chega dizia temer que o próximo PGR viesse de fora do universo dos procuradores, como se fosse obrigatório abandonar o cargo à chantagem do exótico sindicato de Magistrados do Ministério Público.



Comentários

Carlos Antunes disse…
Joana Marques Vidal a PGR dos processos:
Processo dos submarinos – Ministério Público arquiva processo dos submarinos em que o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, aparecia referido como um dos “intervenientes com papel relevante na forma como foram negociados e adjudicados os contratos de aquisição e de contrapartidas” – em que a justiça alemã condenou os ex-executivos da Ferrostaal a dois anos de prisão, com pena suspensa, e ao pagamento de coimas por suborno de funcionários públicos estrangeiros, na venda de submarinos a Portugal e à Grécia!
Processo dos Pandur – compra dos blindados Pandur (22) efectuado por Paulo Portas (a 6 de dezembro de 2004, seis dias após a demissão do Governo) ministro da Defesa no governo de Durão Barroso com denúncias de burla qualificada e participação económica na compra dos blindados – processo de inquérito arquivado pelo Ministério Público!
Tecnoforma – Ministério Público arquiva processo que envolvia o ex-primeiro-ministro Passos Coelho e o ex-Secretário de Estado, Miguel Relvas por suspeitas de corrupção, abuso de poder, participação económica e prevaricação através da Tecnoforma – o MP considerou não ter existido crime na actividade da empresa, alvo de um processo da OLAF (Organismo Europeu de Luta Antifraude), em que este organismo detectou existirem fortes indícios de fraude na obtenção de financiamentos europeus!
É natural que a direita diga que foi a melhor PGR de sempre!

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