15.º aniversário da morte de José Saramago (texto atualizado)

Há quinze anos faleceu o Nobel do nosso contentamento, em Tias, Ilhas Canárias, onde o levou o azedume a Cavaco Silva, dando relevo a quem não o merecia, e aos 85 anos o aguardou a morte, com o desvelo de Pilar del Rio, o seu último e intenso amor.

Foi o início da viagem às origens, o regresso a Azinhaga, onde o esperavam os avós que sempre estremeceu e a oliveira onde lhe depositaram as cinzas. 2010 foi o Ano da Morte de José Saramago, o escritor que deu à língua Portuguesa o Nobel da Literatura e deixou uma obra ímpar e multifacetada.

De Camões e Gil Vicente, passando por Vieira e Aquilino, Saramago destacou-se na plêiade de escritores do século XX e mostrou que a liberdade conquistada com o 25 de Abril trouxe consigo o espírito criativo e a genialidade que conservou até à morte.

A língua deve-lhe a riqueza da imaginação e da sabedoria, e os portugueses o orgulho de o terem como referência estética e cultural, esquecidos da mediocridade de um Governo em que figuras menores, Santana Lopes e Sousa Lara, vetaram uma obra emblemática –, O Evangelho segundo Jesus Cristo.

Com ele, foram “Levantados do Chão” os explorados e trazidas para a literatura figuras de fino recorte que a genialidade do escritor criou.

Quando foi lançada a primeira pedra do Convento de Mafra com que D. João V agradeceu a mercê divina de um herdeiro e esbanjou o ouro do Brasil que lhe sobrou das oferendas ao Papa, não adivinhava o Senhor Fidelíssimo, título e prémio papal ao desperdício com que deslumbrou o Vaticano, que o Mosteiro seria cenário de uma das mais aliciantes obras literárias do maior ficcionista português do Século XX.

Mafra entrou no roteiro cultural internacional projetada pelo «Memorial do Convento», romance em que a profunda erudição se associou à fábula, as alegorias mergulharam na história e Frei Bartolomeu Lourenço acabou louco por entre as dúvidas metafísicas e a perseguição do Santo Ofício, demorando-se o autor no amor entre Baltazar Sete Sóis, ex-soldado maneta, e Blimunda Sete Luas, que perscrutava vontades através dos corpos das pessoas, transparentes ao seu olhar.

A beleza literária e a linguagem inovadora criaram obras-primas que consagraram o escritor que deixou abundantes vitualhas na mesa da literatura.

Que os três lustros decorridos sobre o passamento do grande escritor sejam um pretexto para reler Saramago é a maior homenagem que os leitores lhe podem prestar.

É o que faço a quem trago no devocionário onde Camões, Vieira, Camilo, Eça, Torga e Aquilino também ocupam lugar de destaque.


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