Eleições presidenciais – a minha posição

Jamais serei eleitor de Gouveia e Melo porque sou um eleitor de esquerda que não trai o percurso de mais de seis décadas. Mas, sendo adversário, sou obstinado defensor da direita democrática. Apenas não me revejo nela.

A candidatura de Gouveia e Melo traz perturbação ao regime democrático, não por ser militar, mas por ser militarista e autoritário e representar um apelo messiânico contra os partidos. Que possa ser a salvação destes é hipótese por demonstrar.

A apresentação da sua candidatura, com alguns cidadãos honrados, causou-me arrepio pelas presenças tenebrosas onde avultava o criador de Passos Coelho, Ângelo Correia.

Até ontem só conhecia uma figura respeitável da direita como seu apoiante da primeira hora. Refiro-me a Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do CDS que vem revelando uma notável densidade intelectual e sagacidade política aliadas a invejável honestidade. É um novo Freitas do Amaral que me faz interrogar como foi possível ser substituído por Nuno Melo. Só a decadência ética do regime, que permitiu em Belém, depois de Sampaio, Cavaco e Marcelo, e no PSD, depois de Rio, Montenegro, o pode justificar.

Agora que Rui Rio é a caução ética da exótica candidatura é cada vez mais provável a vitória à primeira volta. Recomenda-a a rutura ostensiva com Marcelo, Montenegro, Marques Mendes, Ventura, Pacheco Amorim, Lobo Xavier e outros videirinhos. Não necessitou Rui Rio de lhes citar os nomes. Marcelo, “perdido no comentário avulso” é a imagem da degradação ética e institucional.

Agora que o PS virou tanto à direita, perdoou os golpes de Marcelo e prepara a sujeição ao PSD, esta candidatura pode até ser a sua tábua de salvação para evitar nova derrota. Não se vê o que o separa agora desta candidatura ou motivo para não a apoiar.

Votar favoravelmente o nome de Aguiar Branco para PAR, depois dos covardes ataques a quem lhe permitiu o lugar na última legislatura, é o cálice amargo que lhe cabe beber.

Não vejo, aliás, que José Luís Carneiro, Sérgio Sousa Pinto, Álvaro Beleza, Ascenso Simões e outros neoliberais do PS não caibam nesta candidatura. E, talvez, seja uma oportunidade para fazer a travessia antes de voltar à oposição à direita.

Está aberto espaço para uma candidatura de esquerda onde as veleidades maximalistas se pagarão caras. Aguardo-a. Rever-me-ei numa candidatura agregadora à esquerda da provável direção do PS para se opor ao desvio de verbas das pensões, dos apoios sociais e da Saúde para compra de armas. E, não podendo disputar com êxito a presidência da República, cabe à esquerda fazer a pedagogia da paz e da justiça social.

Ontem a esquerda não ganhou, mas foi saborosa a derrota da pior direita e ver cair a primeira vítima da revisão constitucional, Rui Rocha.

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