Do Diário da Diana – 13 anos – escola C+S da Musgueira (4420 carateres)

A minha mãe anda descoroçoada. Assistiu estupefacta à recondução do presidente da AR, o senhor que faz bons discursos, de democrata, mas é a versão civilizada dos dois arruaceiros Hugo, o Soares e o Carneiro, ambos do PSD. Mas é eticamente igual.

Ficou amargurada com a proposta do PSD para a sua reeleição depois de ter mostrado, na anterior legislatura, inaptidão para exercer os seus poderes e evitar que os biltres do Chega fizessem do Parlamento circo. E vão continuar!

O PSD quis afrontar o PS, agora que o tem refém, depois de demonizar Pedro Nuno, de quem o PAR Aguiar Branco, disse que fizera pior à democracia em seis meses do que o Ventura em seis anos. E devia-lhe o próprio cargo e a viabilização do OE/25 e o chumbo das moções de censura ao Governo! Que vileza! Um asco! – acrescentei eu.

Nem se alegrou com o chumbo, em votação secreta, do Pacheco do Amorim para vice-presidente da AR. Dizem que foi pudor dos deputados em votarem no antigo dirigente do MDLP, a organização terrorista de extrema-direita que assassinou o padre Max e a sua aluna Maria de Lurdes Correia. Nada disso! Não foram os deputados do PS ou PSD que furaram a praxe, foi o Ventura, tão hábil a simular chiliques como a disfarçar o voto contra o amigo, para poder gritar traição. É um verdadeiro artista.

Depois foi vê-lo a ameaçar com um golpe de Estado, «esta é a última legislatura da 3. ª República» – sabes o que quis dizer, Diana –, e o PAR não tugiu nem mugiu, um ato de covardia de Aguiar Branco. São estas as fragilidades da democracia, dar voz a quem não é democrata, e é o melhor regime que se conhece!

E ontem foi apresentado o novo governo. O Marcelo deixou de ir ao futebol lá fora para o conhecer, sem o PM lhe dar cavaco. Só serve para cerimónias oficiais, promulgações e imposição de veneras. Já ninguém lhe liga ou quer tirar selfies com ele. Até uma ativista pela Palestina o confrontou e obrigou a largá-la e ficar a falar sozinho. Grande mulher!

Enquanto os filhos continuam a receber as avenças na Spinumviva, Montenegro voltou ao Governo de onde expulsou a MAI, um clamoroso fracasso. Faz-lhe tanta falta como o Miguel Arruda ao Chega. E substituiu-a pela Provedora de Justiça que fez a vida negra ao governo PS. Pois! Podia ter colocado nas polícias o truculento Abreu Amorim.

Até a ministra da Saúde ficou para afrontar a oposição. É, aliás, competente para o que o PM quer, ao contrário do que dizem. Podem morrer mais alguns doentes por incúria a avisar o INEM, mas o seu papel é destruir o SNS contra cuja criação votaram o PSD e o CDS. E faz isso bem.

O ministro Castro Almeida, aquele que, durante o apagão, mandou o motorista a levar o gasóleo do carro ao gerador da Maternidade Alfredo da Costa, passou agora a ministro da Economia e da Coesão Territorial. O país riu-se, mas ganhou outra pasta. E juntar tais pastas é tão anómalo como juntar o MAI e a Justiça sob o mesmo titular, mas o Luís é um rural imprevisível. Vamos ver o que faz, agora que já gastou a folga do Medina.

O Paulo Rangel, que continua número 2 do governo e que Marcelo queria para o liderar, já prometeu gastar 3% do PIB em Defesa, que é como quem diz, em armas. Ó Diana, se o teu avô fosse vivo, ele que andou na guerra colonial, teria a reforma em risco. É um número astronómico, nunca discutido na campanha eleitoral! Dizem que é investimento, não é despesa, para a indústria da morte em Portugal. Nem para isso é. Quando muito, é para dinamizar as indústrias do calçado e vestuário, para produzir camuflados e botas.

Entretanto a Dr.ª Maria Luís, a amiga do Chega que foi professora do Passos Coelho e o Montenegro mandou para comissária europeia, já anda atrás dos dinheiros da Segurança Social, para financiar a indústria de armamento da Alemanha e França.

Perguntei à minha mãe se votava no candidato a PR, Seguro. Desolada, disse que votará se não houver melhor, para votar contra o Marques Mendes e o almirante, mas que é um candidato fraquinho, de abstenções violentas. Espera que apareça alguém de que goste, e pensa que o almirante vai ganhar à primeira volta porque o Chega teme apresentar um candidato porque muitos dos seus eleitores gostam tanto do Ventura como do almirante, apesar deste ser democrata como Rui Rio garante aos eleitores. E o Rui Rio é credível.

A conversa já ia longa, mas ainda a quis ouvir sobre o Marques Mendes, o candidato do PSD a quem o diretor da campanha designou por independente, depois de andar dez anos a bajular o Marcelo e a dizer mal dos que ele não queria no PSD, como o Rui Rio.

Marques Mendes juntou notáveis do PSD para dizer que o almirante punha em perigo a democracia, mas enquanto a enorme sala o aplaudia, fora ninguém o levou a sério. Só lá chegou uma mensagem de apoio de uma senhora do Opus Dei, Manuela Neto Portugal, que usa o nome do marido Eanes, merecia melhor, e criou o PRD, o partido onde votou gente de bem por engano e acabou vendido a gente perigosa. Nem o Sérgio Sousa Pinto conseguiu o Marques Mendes atrair. Era só a gente mais mediática do PSD.

Num dia que morreu o Eduardo Gageiro, comigo e a minha mãe tão tristes, a lembrar a fotografia do soldado a tirar o retrato do Salazar da parede e muitas outras de rostos da Revolução, incluindo Salgueiro Maia, dei um beijo à minha mãe e despedi-me com um desabafo.

Porca miséria!

Musgueira, 5 de junho de 2025 – Diana


Comentários

Albino Manuel disse…
Feliz quem tem uma mãe centenária. Deve ser da frequência diária da santa missa.
Manuel M Pinto disse…
"Entre as brumas da memória":
"Almãerante"
https://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2025/06/almaerante.html
Por Ricardo Araújo Pereira

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