Carta de um filho, algures no Brasil

Senhor meu pai, meu dileto:

Estou cada vez mais desiludido com o país. É um país de ingratos, razão tinha o grande português, o amigo que levou a avó à maternidade para nasceres, porque o avô Baltasar não tinha carro. Nunca mais quis regressar ao país ingrato.

Esqueceu o avô Baltazar, que podia ter enriquecido na medicina e só usou o diploma para passar a certidão de óbito ao maior estadista de todos os tempos. Nem uma estátua lhe erigiram, apesar dos filhos que deu à Pátria, quando era grande a Pátria, do Minho a Timor, que os comunistas venderam a retalho.

Tenho muito orgulho em ti e na família. Desde D. João I não tinha havido outra ínclita geração. E não volta a surgir um homem como tu, apesar de, na tua modéstia, dares o lugar ao avô Baltazar. O tio António fundou a juventude do nosso PPD, nascido porque os traidores extinguiram a União Nacional que unia os portugueses de bem, e não eram precisos partidos. O tio Pedro privatizou um Banco no tempo do homem que levaste ao poder e, depois, ao mais alto cargo! E tu és o que és! É a Pátria que nos deve favores.

Mas é para contigo o quinhão maior de ingratidão. O suburbano que te deve os sessenta deputados, persegue-te e difama-te. Um traste que abomino, embora de boas ideias e um católico devoto.

Fizeste o que devias, deixaste no poder, não os que mereciam, mas os que farão a tarefa de varrer cinquenta e um anos de desgraça. Foi pena um rural espertalhão, dissimulado e falso, estar no sítio certo quanto tiveste aquela ideia magnífica do parágrafo! E o que te esforçaste depois para transformares um fura-vidas em governante!

Não te arrependas de ter sacrificado um amigo leal pelas tuas ideias, é um dever que me ensinaste, sacrificar tudo a Deus, Pátria e Família. E foi para lugar melhor, em Bruxelas!

Até o almirante que cobriste de estrelas para fazer o jeito à Nato, quando a Nato era uma organização decente, que levaste ao mais alto cargo dos marinheiros, alterando hábitos e preterindo outros oficiais para estruturares as Forças Armadas como queria a Nato, é agora infiel! Fizeste do cordeiro lobo. Depois dos faróis Montenegro e Ventura, deixas o periscópio a espreitar o Tejo do Palácio cujas portas lhe abriste. Sai e não voltes.

Não precisas do Beco do Chão Salgado para passeios de raiva, e não te faltarão, longe daí, a vichyssoise, o moscatel, a ginjinha, os pastéis de nata e os pedidos de selfies.

Já fizeste tudo o que podias, só não conseguiste transferir o contrato de arrendamento do Palácio ao Marques Mendes, onde já o albergaste dez anos no Conselho de Estado! É um fracasso da SIC, mais do que teu.

A nove meses de perderes o alvará das veneras, não esqueças os amigos, os que não nos traem, e eu prometo levar-te a Seul, na Coreia do Sul, à Jornada Mundial da Juventude (JMJ/2027) a ver um papa melhor do que o que sobreviveu aos abanões que lhe deste no parque que o Moedas crismou agora com o nome do defunto.   

Peço-te a bênção e beijo-te, senhor meu pai.

a) Nuno

Brasil, 2/06/2025

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