Creio na ressurreição e no ámen, só não acredito na vida eterna (2)
Ao trazer ontem uma crónica publicada num dos meus livros, à venda nas livrarias, para celebrar a data em que, catorze anos antes, dormi em casa, após 61 dias de ausência, com menos duas dúzias de quilos, sem vesícula biliar, sem muitos milhões de neurónios e com apagões no passado, surpreendeu-me que despertasse uma revoada de aplausos e afetos tão pouco comuns num tempo em que há pudor em mostrar afeições.
Foram numerosas as mensagens que recebi.
Não esperei, ao acomodar as palavras e os sentimentos aos
factos, que as frases, atiradas aos leitores, despertassem tantas e tão
veementes reações. E desvaneceram-me.
Senti-me desconcertado com a quantidade e qualidade dos
comentários, com o humor e a sensibilidade revelados e considerações
filosóficas de leitores que peregrinaram uma vez mais ou pela primeira vez pelo
texto nascido do vício da escrita e das idiossincrasias da bactéria.
Não houve coragem do protagonista, que se limitou
passivamente a acordar de uma luta entre os médicos e a bactéria, peleja a que
foi alheio e de que só tomou conhecimento a posteriori.
A única certeza é que não fui chamado a pronunciar-me e não assisti,
enquanto o mundo continuou a girar, os que gostavam de mim sofreram e uma prima
prometeu uma bilha de azeite a um santo da sua devoção para me curar.
Agradeci-lhe a intenção, mas seria hipócrita se não lhe dissesse, e disse, que
errou ao dar ao santo o azeite que me podia ter oferecido com maior proveito.
Nihil sub sole novum, isto é, “nada de novo sob o sol”.
Agreguei amigos ao longo do tempo e leitores através da prosa. Continuarei,
enquanto puder, a retribuir o que recebo.
Um afetuoso abraço a tod@s.

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