O sonho adiado
A Europa é a bicicleta que parou e caiu. O «Não» francês, seguido do «Não» holandês, foi um mau prenúncio para o projecto que trouxe ao velho Continente uma época de rara prosperidade em que os nacionalismos se esbateram e a paz, pouco habitual no passado, se prolongou, na generalidade do seu território, por três gerações.
Uns queriam mais e melhor Europa, outros queriam menos e, se possível, nenhuma. Uns e outros foram cúmplices no desastre que começou a desenhar-se no Continente que está à deriva, sem leme e sem motor, qual jangada perdida, a que os ventos e marés favoráveis de nada servem por ninguém saber onde aportar.
Os abutres já farejam os despojos do cadáver. Le Pen há muito que não gozava vitória tão retumbante. Há quem procure o regresso no caminho percorrido e anseie pelo passado. Põem em causa o alargamento, abominam a imigração, detestam a moeda única.
Não tarda que a xenofobia alastre, que o regresso das fronteiras seja pedido, que a velha moeda seja reivindicada.
Manuel Monteiro, antigo líder do CDS, a fazer pela vida num partido que não arranca, já veio defender a suspensão da participação de Portugal no euro. A moeda única é uma espinha cravada no nacionalismo que levou o Parido Popular Europeu (PPE) a expulsar o CDS/PP por uma questão de salubridade política.
Há mais vida para além da Constituição Europeia mas há menos solidariedade e pior Europa depois do NÃO.
Carlos Esperança
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