Tony Blair: O Novo Líder Europeu

Tony Blair: O Novo Líder Europeu

Quem se lembra dos anos 80 e 90 com uma tripla forte e progressista Miterrand-Köhl-Dellors, só pode sorrir ao lembrar-se do que já cheira a passado: a dupla Schröder-Chirac. Honra seja feira a Schröder que com Blair e Prodi conseguiram o alargamento à Europa central. Uma justiça histórica e um passo de gigante para um Continente mais harmonioso.

Estas últimas semanas vieram mostrar que a França desapareceu do palco político europeu e mundial: é um jogador ao nível de uma Itália ou de uma Espanha. Não mais.

Chirac perdeu em casa para a xenofobia, o medo e o folclore – palavras que já aqui usei e que sempre repetirei. Agora perdeu em Bruxelas por ir defender exactamente o mesmo folclore, o mesmo medo e a mesma xenofobia.

O folclore de uma PAC de proprietários ricos, de consumidores usurpados e de um orçamento medieval. Quem imagina que um Estado moderno gaste 40% na Agricultura!!! Porque há-de ser diferente na UE?!

O medo do mercado global, da China, da Índia, dos outros tigres asiáticos e do Brasil onde dezenas de milhões de pessoas foram tiradas da miséria nos últimos 10 anos e onde centenas de milhões de seres humanos são educados e têm vontade de construir uma sociedade mais desenvolvida e de deixar uma herança melhor aos seus filhos. Ou ainda não sabem que a Índia “produz” mais engenheiros que os Estados Unidos?!

Xenofobia porque no fundo parece estar implícito nas mentes de muitos que a Europa ‑ a pequena Europa, a dos 15, onde Portugal e a Grécia entram porque têm uma História respeitável e até veneram a cruz do Senhor – tem o direito natural a ser rica, a dominar política, económica e culturalmente o mundo. Pois se é assim desde Vasco da Gama e Cristóvão Colombo!? Sim, mas a História é essa espiral com asas de vento, que voa rápido e muda de direcções…

Tony Blair compreendeu a nova ordem mundial e está a desenhá-la de feição aos interesses da hegemonia cultural anglo-saxónica. É um bom Primeiro-Ministro do Reino Unido. Resta saber se será um bom líder da Europa.

Os derrotados de Bruxelas tentaram denegrir a sua imagem. Mas a imprensa mais atenta compreendeu que mais vale um não-acordo que um mau acordo.

O próprio “Le Monde” explica aos seus leitores franceses que Chirac anda a vender o impossível: uma PAC obsoleta. Um não-investimento na Nova Economia; numa palavra um não cumprimento da Estratégia de Lisboa, que a Presidência Portuguesa de Guterees tão bem preparou! Mais a mais, o próprio “Le Monde”, com algum cinismo e humor explica a quem votou Não no referendo de Maio: “Le seul plan B qui existe n’est pas celui qu’annonçaient les défenseurs du non de gauche. C’est bien de plan Blair” – que apelida de “social-libéral”.

Blair tem agora uma responsabilidade histórica. Depois de ter conseguido o perdão da dívida dos países mais pobres do mundo, será um líder europeu – da Europa da solidariedade, do desenvolvimento sustentado, da cooperação com os outros povo – se conseguir impor regras de justiça no comércio agrícola. Essa guerra terá que a travar com os franceses, mas também com os seus amigos americanos.

Por outro lado, terá a possibilidade de conseguir um orçamento típico do século XXI. Em que o público apoia as Universidades, a Investigação, a Ciência e Tecnologia. Em que a UE cumpra a “Agenda de Lisboa”! Que mantenha a UE como um espaço de desenvolvimento e de cultura, um pólo mundial de progresso humano.

O Estado social europeu não pode viver no proteccionismo nem no imobilismo. O socialismo democrático exige uma visão progressista, com optimismo global, para enfrentar as questões do ambiente, do são convívio entre os povos e culturas, da imigração e da cultura.

Isso passa por uma Europa alargada, que abra um horizonte de esperança à Turquia e à Ucrânia! E por uma Europa de coesão regional, de coesão social, com Estados que prestem serviços públicos eficientes e por uma Europa mais democrática, em que o princípio da subsidiariedade seja respeitado. Esse princípio que é um dos pilares, a par com a Carta dos Direitos Fundamentais da Constituição Europeia.

Blair tem agora os dados na mão.

André Pereira

Comentários

Anónimo disse…
Uma excelente análise para uma ainda melhor discussão.

Espero que os leitores estejam à altura deste texto.

Vale a pena contestar ou apoiar as ideias expostas.
Anónimo disse…
Que é uma óptima análise, é.
Dois problemas:
a)Político - seria a primeira vez na história, que se constituia uma nova potencia política nestas condições. A partir de um conjunto de países ultrapassados pela dinâmica da história - a Europa dominante até meados do séc XX, perante os EUA depois dessa data. E os poderes emergentes a Oriente.
b)Humano - a qualidade dos actores envolvidos: Chirac, que «admitia» ter acompanhado Bush no saque do Iraque (se tivesse tido garantias económicas - área exclusiva para exploração de petróleo /informação política de toda a confiança); Blair, suficientemente realista, para perceber de onde sopram os «ventos da história» (do amigo americano); o pequeno chefe da Comissão Europeia-oinqualificável lusitano de Bruxelas.
c)Podíamos tentar a teoria «desafio/resposta» de Toynbee. Qual o desafio que se coloca à Europa? É suficientemente dificil para ser estimulante e não demasiado para não ser abortivo?
Não é.
Anónimo disse…
Depois do que disse há pouco, vi a coluna de Peres Metelo no DN de segunda - Negócios: o que diz de Blair, diz quase tudo. Mais um.

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