O uso da "bufaria", ou o recurso à delação, seja pública ou anónima, como arma política, foi endémico nos últimos séculos da vida pública em Portugal. E, para além de endémico foi, sempre que possível, calunioso ou pérfido. Todos os que se lembram dos tempos da ditadura sabem que qualquer opositor ao “Estado Novo” era, no mínimo, um execrável comunista …“ao serviço de inconfessáveis interesses estrangeiros”. Esta era a terminologia do Ministério do Interior, do SNI, da PIDE/DGS, dos Tribunais Plenários, etc. Hoje, sabemos que muitos dos que contestaram a ditadura pouco mais eram do que cidadãos (muitas vezes jovens) vivendo, na época, a utopia de construir um Portugal livre, justo e mais igualitário. É óbvio que existiam organizações políticas – onde o PCP pontificou – que lutavam pelo derrube do regime salazarista. Mas todos, sem excepção, eram classificados pela mesma bitola e sumariamente “punidos”. Com essa atitude baseada na mais vil delação perdemos, ou dificultámos, o