Ex-inspector da PJ condenado
Foi a canalhice habitual. Já tinha sido feita a Ferro Rodrigues com o caso «Casa Pia». Era preciso destruir Sócrates. Prestou-se um inspector da PJ.
Provou-se agora que eram falsas as insinuações para o comprometer. Outras calúnias circularam na época, como todos sabemos. A dignidade cívica é um bem cada vez mais escasso e são cada vez menos os que se sujeitam à pulhice de uns tantos para servirem o País. Ser político é um risco para a honra e o bom-nome.
É altura de perguntar porque se condena um inspector e não se prende um Director-geral. Por acaso Adelino Salvado não violou o segredo de justiça para destruir Ferro Rodrigues? E Fernando Negrão não telefonava para os jornais, embora as gravações que o incriminavam fossem ilegais?
Somos um País com baixa produtividade mas elevados índices de indignidade.
Há bufos de que ninguém fala. Basta estarem ao serviço da direita.
Comentários
E, para além de endémico foi, sempre que possível, calunioso ou pérfido. Todos os que se lembram dos tempos da ditadura sabem que qualquer opositor ao “Estado Novo” era, no mínimo, um execrável comunista …“ao serviço de inconfessáveis interesses estrangeiros”. Esta era a terminologia do Ministério do Interior, do SNI, da PIDE/DGS, dos Tribunais Plenários, etc.
Hoje, sabemos que muitos dos que contestaram a ditadura pouco mais eram do que cidadãos (muitas vezes jovens) vivendo, na época, a utopia de construir um Portugal livre, justo e mais igualitário. É óbvio que existiam organizações políticas – onde o PCP pontificou – que lutavam pelo derrube do regime salazarista. Mas todos, sem excepção, eram classificados pela mesma bitola e sumariamente “punidos”.
Com essa atitude baseada na mais vil delação perdemos, ou dificultamos, o contributo público de notáveis cientistas portugueses como, p. exº., Bento de Jesus Caraça, Franscisco Pulido Valente, Abel Salazar, Rodrigues Lapa, Aurélio Quintanilha,... (entre muitos outros).
Este clima não é exclusivo de Portugal. Todos nos lembramos dos anos 50 e da “caça às bruxas” protagonizada por McCarthy que antes de desaparecer da cena política americana, completamente desacreditado, ainda teve tempo para acusar Albert Einstein de “actividades antiamericanas”.
Este terrível anátema social não poupou, através dos séculos, o mundo da espiritualidade, nomeadamente, o religioso. A Inquisição é exactamente isso: espiar, caluniar, denunciar… e depois, a fogueira!
Hoje, a delação tem justificações mais subtis. É pretensamente ética. Muitas vezes invoca a legalidade. Nos organismos ou departamentos político-burocráticos os atentos, dedicados e servis delatores fornecem aos chefes ou superiores hierárquicos uma trama de “informações” que, na sua mente pérfida, são lesivas da “legalidade instituída”. Permitem, em nome dessa “legalidade”, e de uma suposta “fidelidade”, que os órgãos dirigentes possam “destruir” um eventual opositor político, um potencial concorrente ou, simplesmente, um cidadão crítico, sarcástico ou jocoso.
Tal prática não se restringe ao combate ao pensamento divergente, à oposição séria e construtiva, às modalidades de expressão, às intencionalidades das preposições. Visa a própria pessoa, enquanto cidadão.
Extrapola os limites aceitáveis da luta política para entrar num ambiente da mais abjecta baixeza humana. Parte de um princípio insuportável em democracia: ninguém pode questionar a “legalidade instituída” ou os seus símbolos (dirigentes ou chefes).
O que efectivamente está em jogo é a utilização dos organismos públicos como um meio. Quando estes abusos atingem o âmbito da investigação criminal, ou os orgãos judiciais, tornam-se, tão somente, instrumentos descrédito da Justiça e socialmente iníquos.
Levantam a suspeição sobre o uso dos recursos e privilégios, inerentes aos cargos, para saciarem a sofreguidão que o Poder lhes incute e estimula e promoverem danos cívicos sobre "os outros" (adversários políticos, concorrentes, "amigos", colegas, etc.)
Os “bufos” e, cumulativamente, os "ezímios" chefes receptadores das delações, pretendem, na sua mesquinhez democrática, apresentar-se como paladinos da justiça e defensores da ordem e da dignificação da coisa pública. Na verdade, para além da ignomínia, relevam um comportamento servilista em relação às causas públicas e uma intrínseca postura anti-social.
Estamos perante a aristotélica questão dos meios e dos fins, na política.
E não podemos, nem devemos, culpar Maquiavel, por estas insensatas diatribes que, hoje, tão danosa e desnecessariamente, atingem as liberdades individuais e a credibilidade democrática, impestando o normal exercício de actividades políticas ou, tão simplesmente, os direitos de cidadania.
Há bufos de que ninguém fala. Basta estarem ao serviço da direita."
Com o panorama actual, s.m.o. CE perdeu uma belíssima oportunidade para estar calado...
A destruição de Ferro Rodrigues teve o beneplácito régio no interior do PS; depois continuou em roda livre − mata-se, diz um, esfola-se, reforça outro. Era incómodo, era a direcção do PS à esquerda, tinha revelado algumas preocupações sociais tão odiadas pelos donos e capatazes da quinta, não lambia as botas ao neoliberalismo tão do agrado da actual direcção e dos seus patrões, a quem o actual poder serve melhor do que, no presente, poderiam servir os tipos do PSD e do CDS − estes têm a cara ao sol, são a direita visível, são notórios, não passam despercebidos; aqueles tapam o sol com a peneira, afivelam a máscara de esquerda.
Por que razão não terá Ferro Rodrigues exigido direito de resposta (ou o que se lhe deva chamar) quando a TV, indo beber às tais fugas de informação, propalou a linguagem que ele usou em conversas privadas, para atestar o direito pleno que lhe cabia, como a qualquer cidadão, de, em privado, falar como entendesse, com a única limitação válida de aceitação do seu interlocutor? Com que fim Sampaio não dissolveu a AR logo que o de Bruxelas se esgueirou − imitando o mau exemplo que vinha do PS, mas vestindo gravata nova e fato do último corte e saindo pela ribalta em vez de por baixo da cadeira −, e pôs no poder um pistoleiro de taberna? A mudança do PS para a direita estava na calha, o neoliberalismo precisava disso, com o PSD e o CDS não ia tão longe tão depressa!
Os bufos de que ninguém fala − essas figuras sinistras do fascismo que também tu e eu tanto tememos pela delação −, todos, servem a direita e são de direita, não são de esquerda. Estão no SNS, na DREN (o prazo de validade de Brecht ainda não caducou), em todo o lado da função pública, onde Sócrates já conseguiu instilar e instalar o medo. À boa maneira dum Tónio das Botas moderno. É uma nova modalidade, esta, de via administrativa (por enquanto), subtil. Os boys e as girls querem jobs. Até o do PSD se "queixou", vê lá tu, de ter sido ultrapassado pela direita (do PS). E foi. É claro, quando a outra direita, a destapada, voltar ao poder nem uma vírgula vai tirar aos danos, enormes, que estes tipos de agora já fizeram e continuarão a fazer à sociedade. E, podendo, irão mais longe, fazendo jus ao grande avanço já conseguido pelos actuais.
O Céu não faz falta. Mas tenho pena por não ser verdade haver Inferno, onde continuariam irmanados, apenas disputando uma ou outra brasa para a sua sardinha…
P.S.: Aqui para nós: eu ficaria pasmado se no tal tribunal se demonstrasse o contrário. O poder é-o, ou não!?
Luís Veiga
Este tema sobre a delação, ou se quisermos a "bufaria" , muito embora, sendo um problema "crónico" na nossa sociedade, entrou na ordem do dia.
Tenho receio que haja uma lamentável confusão entre a denúncia política fundamentada (legítima) e a delação nas relações de trabalho, políticas, sociais, etc., de modo acrítico, ou malévolo (execrável).
Mais vale discuti-lo serenamente do que contorná-lo.
Como pode haver produtividade, quando o único objectivo é lixar o vizinho. Quem pode construir ou avançar rodeado de pessoas que constantemente tentam pôr um gajo ao chão. Não compreendem sequer que o progresso dum traz progresso para o outro.
Meu caro Luís Veiga:
Como nenhum de nós é militante do PS presumo que tenhas boas informações para arriscares uma interpretação que não passe de mera calúnia.
Pelo que sei, o ex-director da PJ, Adelino Salvado, é um indivíduo de direita, absolutamente alheio ao PS e, quando muito, próximo do CDS que sempre o protegeu.
Pois foi ele que disse ao jornalista do 24 Horas: «Basta falar no nome do Ferro para o liquidar».
Depois disto penso que só por ingenuidade ou calúnia se pode acusar o PS da autoria do crime.
"... confusão entre a denúncia política fundamentada (legítima) e a delação nas relações de trabalho, políticas, sociais, etc., de modo acrítico, ou malévolo (execrável)."? Vês no horizonte alguma ameaça de golpe de estado, é?
Explica-me melhor isso, a ver se eu compreendo.
Será legítimo o que se passou no caso do centro de saúde, onde um boy do PS foi substituir a anterior directora? Será legítimo ouvir aqui, em privado, para ir meter em qualquer sítio da chefia da DREN e, ao que parece (pelo menos, conforme eu ouvi na TV, o despacho da ME não refere nenhum insulto, ao contrário do que tu dizes, a nenhuma pessoa senão ao próprio Sócrates, além de ficar por se saber qual o conceito que a senhora tem de insulto), alterando os factos? Já agora gostava de saber se o tal Charrua foi ou vai ser substituído por algum boy ou algunma girl do PS. Será legítimo considerar ilegal a manifestação contra a política de sócrates e da UE, em Guimarães, quando não são consideradas ilegais as manifestações de apoio ao mesmo actor do nosso teatro político nas suas pergrinações impantes? Será benévolo o que usa a conversa privada, tu-cá, tu-lá, para bufar?
Lembras-te que a guarda pretoriana de Cavaco, desfardada, usava máquinas fotográficas onde houvesse manifestações de contestação?
Os bufos são bufos!
Explica-me isso melhor...
"Mais vale discuti-lo serenamente do que contorná-lo." Foi o que eu fiz:discuti-lo serenamente.
Luís Veiga