Desengano

Não é cinismo. É franqueza.
Pois na verdade,
Eu dispenso a amizade
Dos vêm sentar-se à minha mesa.
Por norma que adoptei,
Não costumo exigir
Aquilo que já não sei
Nem quero retribuir.
Vivo perfeitamente
Sem afeições supostas
Do amigo sorridente
Que dá palmadas nas costas
E oferece, com ar fútil,
E grande cópia de gestos,
Os seus préstimos modestos
“Naquilo que possa ser útil…”
Quando mais nada me faça,
Que Deus me poupe a desgraça
Das nobres dedicações
E das grandes simpatias.

De enganos e decepções,
Já me sobraram os dias!

a) Armando Moradas Ferreira

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