EUA e Kosovo
Só compreendi verdadeiramente o interesse e a pressa dos EUA na independência do Kosovo ao ver, na televisão, a enorme quantidade de bandeiras americanas que muçulmanos agitavam para festejar a independência.
Longe vão os tempos em que Bush falava com Deus, que o aconselhou a invadir o Iraque.
Longe vão os tempos em que Bush falava com Deus, que o aconselhou a invadir o Iraque.
Comentários
Não me atrevo a discordar das razões dos albaneses do Kosovo, apenas duvido das razões do americanos.
Há muitos povos mártires que não têm o apoio dos EUA.
Quanto ao Kosovo, apesar dos bem documentados posts do Rui Cascao, preferia uma ampla autonomia à independência.
Não aceito a vingança copntra os sérvios, por mais «merecida» que seja, nem a abertura da Caixa de Pandora para novas aventuras do Cáucaso à Península Ibérica.
E vamos ou não permitir que os enclaves sérvios se tornem independentes do Kosovo.
Os interesses das grandes potências são muito complexos, e a ajuda a um país mais pequeno nunca é altruísta.
Respondendo ao Carlos Encarnação, concordo que teoricamente, num mundo perfeito, o ideal seria uma autonomia alargada. Mas parece-me que essa autonomia é impossível de concretizar na prática, uma vez que as posições se extremaram tanto que a continuidade da maioria albanesa do Kosovo na Sérvia é insustentável. Massacres e intolerância de ambos os lados, uma geração perdida de albaneses que foram excluídos do sistema de educação e do sistema de saúde.
Para além disso, que garantias teriam os albaneses de que, a obterem um estatuto de autonomia alargada no seio da Sérvia, esse estatuto não seria posteriormente reduzido ou mesmo extinto, como já aconteceu no passado recente, em 1989? Como é que se pode convencer um Kosovar que essa autonomia seria respeitada por um país em que a extrema-direita nacionalista obtém 48% dos votos numa eleição presidencial e é o partido mais votado (sendo que o seu líder está detido preventivamente em Haia, sendo julgado por genocídio)?
Outro argumento ainda prende-se com a questão económica. Nos noventa e cinco anos que o Kosovo pertenceu à Sérvia, o que é que os seus sucessivos governos fizeram para desenvolver o território? Quase nada. Que garantias poderiam ter os albaneses de que uma nova autonomia no seio da Sérvia veria alguma réstia de esperança de prosperidade.
Admiro muito o povo sérvio, a sua cultura, a sua língua que me orgulho de saber falar, admiro a espontaneidade e a enorme generosidade do seu povo. Mas, o estado sérvio, com os políticos que tem, e com a conduta face aos seus vizinhos e às suas minorias que tem revelado à saciedade nas duas últimas décadas não merece qualquer credibilidade por parte dos seus vizinhos ou da comunidade internacional. E é por isso que a Sérvia perde o Kosovo, tal como perdeu a federação jugoslava, tal como perdeu o Montenegro, e não por qualquer sentimento de vingança contra o bravo povo sérvio, que desde a Idade Média sempre se bateu fielmente ao lado do Ocidente.
Quanto à secessão das partes de maioria sérvia do Kosovo e a sua anexação à Sérvia, tal solução seria, essa sim, a abertura da caixa de Pandora nos Balcãs. Qualquer ajuste de fronteiras entre Kosovo e Sérvia seria extremamente complicado, uma vez que a etnia albanesa é maioritária em parte significativa do Sul da Sérvia (o vale de Preševo e Bujanovac), e que 30% dos sérvios do Kosovo estão dispersos pelo sul do Kosovo. E a começarem os ajustes de território, abrir-se-iam novas reivindicações territoriais dos albaneses do Montenegro e da Macedónia.
Perdoe-me o lapso
Não me senti ofendido. Nem era motivo para isso.
Apenas me separam de Carlos Encarnação as convicções e as missas. De resto até tenho uma relação amistosa com o pio autarca.