O submarino e os seus fantasmas…[II]

ninguém atravessa a escada lateral...

O submarino “Tridente” chegou hoje – encapotadamente - a Portugal! Bem, está no Tejo, ancorado na base naval do Alfeite, mas oficialmente [ainda] não chegou, nem sequer existirá.
Não vai ser nos próximos tempos incorporado nos efectivos da Armada. E não existe porque o Estado precisa de um período de carência para o pagar. Se fosse inegavelmente necessário para as acções de soberania acometidas às Forças Armadas – o que desde o início sempre foi polémico – e, portanto, iniciasse a sua operacionalidade [já] provocaria um estrondoso rombo no equilíbrio orçamental do Estado.

Na actual fase de execução orçamental – em que mais uma redução extraordinaria das despesas públicas não parece viável – a obtenção de receitas para o seu pagamento [os 500 milhões de euros necessários não constam das despesas do OGE para 2010…] obrigariam a mais um aumento [imediato] da carga fiscal …pois o negócio submerso aumenta per si em 0.6% o défice de 2010!

A renovação dos obsoletos submarinos que dispúnhamos – há pouco tempo tivemos oportunidade de ver uma reportagem sobre a última missão do velho “Barracuda” – foi pensada [precipitada] no tempo das vacas gordas, i. e., no dealbar do séc. XXI [Governo de António Guterres] mas só, em 2003 [Resolução do Conselho de Ministros n.º 183/2003 de 6 de Novembro] em pleno Governo de Durão Barroso, sendo Ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, o Estado deu o passo definitivo - o salto sem rede - para a aquisição de 2 novos submarinos .

Convém recordar que, em 2004, sob a batuta de Ferreira Leite, as contas públicas em vez do programado défice de 2,8% atingiram um valor que rondou os 7%... Os tempos das vacas gordas estavam para trás e vivíamos na selva [tempos de “tanga”…].
É exactamente nessa altura que se contrai com a encomenda dos dois submarinos uma dívida superior a 1000 milhões de euros.

Hoje, o submarino chegou para nos recordar que não temos disponibilidades de tesouraria para satisfazer este investimentos bélicos . Para lembrar-nos que se agora se discutem e questionam os grandes investimentos públicos [NAL, TGV, etc.] devíamos ter feito o mesmo em 2003-2004…

O pagamento vai ser protelado para 2011 [adiamos a dívida]. Só que esse intervalo "para respirar" não durará muito. Em 2011, chega o outro submarino [Arpão] cujo pagamento deverá já integrar – a manterem-se os mesmos mecanismos de protelamento - o OGE de 2012

Nota Final:

Esta controversa aquisição já deu origem a dois processos judiciais: um sob investigação pelo Ministério Público; outro em fase de instrução.
Um deles – o investigado pelo MP – diz respeito à compra dos 2 submarinos e à suspeita de corrupção e branqueamento, a partir de escutas a conversas entre Abel Pinheiro e Paulo Portas, actual líder do CDS-PP, deputado da República e ex-ministro da Defesa.

A entrada do submarino na base do Alfeite decorreu, à superficie, mas sob severas medidas de discrição. À sorrelfa.

Segredo de Justiça, oblige?…