A guerra colonial, os crimes de guerra e os retornados

Há quem, justamente, desaprove o apodo de “retornado ressentido” com que qualifico Passos Coelho e outros adversários implacáveis do Estado de direito e dos direitos sociais dos portugueses.

Entendamo-nos. Fui combatente na guerra colonial e não deixo de condenar os crimes cometidos por militares portugueses, varridos para debaixo do tapete. O culpado maior de todos os crimes foi o salazarismo, responsável por uma guerra injusta, criminosa e inútil, quando éramos tão atrasados que até a aceitar o direito dos povos à autodeterminação fomos os últimos.

Mas não podemos esquecer os massacres, perpetrados durante a guerra colonial, de que Wiriamu  ficou como paradigma da violência gratuita e da crueldade assassina. Não nos julguem como se todos fôssemos o alferes Robles ou o comandante Alpoim Calvão que Cavaco continua a condecorar.

Não sou insensível aos dramas dos retornados, alguns familiares meus, entre os quais conto numerosos amigos e correligionários. Sinto orgulho na forma como Portugal acolheu as vítimas da independência das antigas colónias, rapidamente integrados e que muito contribuíram para o progresso do País.

Não sou xenófobo. Não me move o mais leve resquício de vingança contra quem julgou erradamente ser legítima a guerra que envolveu um milhão de jovens portugueses, onde morreram vários milhares e um número, incomparavelmente maior, ficou estropiado e ainda hoje lambe as feridas e suporta os traumas.

Tal como não esqueço os bombardeamentos sobre palhotas, onde arderam mulheres e crianças, também não esqueço os retornados que incendiaram sedes do PCP e do PS no país que também era seu e que tudo fazia para minorar a tragédia dos que regressaram, como não esqueço os terroristas que entusiasticamente aderiram ao ELP e ao MDLP.

Ser retornado, tal como ter sido militar na guerra colonial, não é crime, é uma desgraça comum. Crime é defender a legitimidade da guerra em que se participou ou vingar-se de ter sido vítima da descolonização. É este último defeito de Passos Coelho que execro e não deixarei de denunciar até o ver removido das funções que nominalmente exerce.

De uma vez por todas, aqui ficam a explicação e o contexto em que, na minha opinião, é justo designar como retornado ressentido, vingativo e incompetente o atual PM.

Comentários

Manuel Galvão disse…
Os grupos de pessoas que são atingidos por uma qualquer desgraça que se traduz em segregação, perseguição, agressão dos seus membros, tendem a fechar-se sobre si mesmos como estratégia de defesa. Dificilmente aceitam no seu seio pessoas vindas de fora, dificilmente dão emprego a pessoas vindas de fora, dificilmete... muitas outras coisas a pessoas vindas de fora do grupo.
Este comportamento, que é em si mesmo uma reação natural à adversidade, causa mal-estar nas relações com sociedade "de fora", a qual,em regra, tem muitíssimo mais pessoas do que as que constituem o grupo.
Esse mal-estar pode gerer, por sua vez, mais descriminação, mais perseguições, etc., criando um ciclo com feed-back de realimentação negativa que conduz a tensões sociais elevadísssimas, pois cada iteração provoca um aumento de tensão. O limite é a rutura.

Judeus na Alemnha, ciganos na Hungria. Felizmente não chegámos à rutura no caso dos retornados. Mas a coisa andou um pouco mal parada no final dos anos 70. Mas até nisso a descolonização foi exemplar.

Nunca vi PCoelho defender a legitimidade da guerra colonial nem me parece que a sua atitude seja de vingança de ter sido vítima da descolonização.

O roteiro dele é o roteiro da direita. Aquela direita que nos desabituamos de ver mandar em Portugal. A memória das pessoas é curta...
É uma interpretação legítima a sua, Manuel Galvão.
Unknown disse…
Alguem terá dito que um moralista é um hipocrita por natureza.
Qualquer esquerdista é sempre um moralista em causa propria e alheia.
Eu nunca coloquei minas nas estradas civis.

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