O Governo e a requalificação dos funcionários públicos

Decididamente este governo não tem apenas problemas com a governação, tem graves dificuldades com a linguagem, a ética e a legalidade. Da Constituição da República aos Tribunais, dos sindicatos aos cidadãos, da Segurança Social à Saúde, da Escola pública à preservação das florestas, tudo são forças de bloqueio ou transtornos para um governo que gostaria de outro país, eleitores diferentes e uma política cozinhada com o seu PR.

Quando Passos Coelho, um génio do analfabetismo político e da indigência governativa, fala na requalificação dos funcionários, não pensa na atribuição de nova classificação ou na redefinição de funções, refere-se, no seu rudimentar vocabulário, a despedimentos.

Passos Coelho é um sólido talento da banalidade que, liberto das funções governativas, endossadas a Paulo Portas, passeia os guarda-costas pelo país amedrontado a dizer que não é eleitoralista. Aceitando que no reduzido léxico do alegado PM caiba o significado de tal palavra, tem-se a certeza de que não sabe do que fala quando refere aos resultados económicos que – segundo diz –, começam a aparecer.

Houve um conjunto de coincidências trágicas na desgraça que nos atingiu: a candidatura de Cavaco, a que a mais baixa votação de sempre não impediu a reeleição tangencial; a crise financeira mundial; a eleição inapropriada de Passos Coelho, julgada de transição, para líder do PSD; a queda da confiança do eleitorado, em Sócrates; o rancor de Cavaco ao PM; a oportunidade de Ângelo Correia e Miguel Relvas colocarem a sua criação em S. Bento; a precipitação das eleições legislativas em tão sinistro cenário.

Hoje, com Cavaco manietado, sabe-se lá por quem e porquê, as traquinices irrevogáveis de Paulo Portas não foram suficientes para dar voz ao eleitorado, enquanto a situação se degrada inexoravelmente e a suspeição no PR e no PM ferem a confiança na República.

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