As Ilhas Selvagens e o aproveitamento dos selvagens

A soberania portuguesa sobre as Ilhas Selvagens não oferece dúvidas e é caricato que a Espanha, com a ilhota/rochedo de Persil à distância de uma pedrada de Marrocos, e que enviou um navio militar para defender a soberania quando um marroquino apascentava aí umas cabras, viesse agora reivindicar limitações à soberania que Portugal exerce e às consequências que advêm para a jurisdição sobre as águas marítimas e a respetiva zona económica exclusiva.

Portugal é obrigado a contrariar a manobra de Rajoy depois de, por incúria e inépcia, ter deixado passar sem resposta imediata a carta enviada à ONU, por Espanha, poucos dias antes da visita do PR.

A Espanha, que, juridicamente, pode ver contestada a soberania sobre Olivença e o seu termo, veio recentemente reavivar o problema recorrente com Gibraltar e, agora, com a zona económica das Ilhas Selvagens. É uma forma de distrair os espanhóis do oceano de corrupção em que o PP se atolou e dos problemas económicos que abalam o País.

Por seu lado, a reivindicação portuguesa, reafirmada na ONU, sobre as Ilhas Selvagens, é uma distração oportuna para as sucessivas provocações feitas pelo ignaro PM ao TC, para a desatinada governação e para as malfeitorias avulsas que o bando governamental se tem encarregado de levar a efeito.

O nacionalismo, sobretudo após perda mal digerida dos impérios, é uma excelente fator de aglutinação de um povo em torno de um Governo. Basta lembrar a euforia argentina com os generais que, logo a seguir à infausta reivindicação sobre as ilhas Maldivas, se viram, por motivos das suas iniquidades sobre o povo, julgados e condenados, enquanto a senhora Thatcher se cobria de glória, após ter destruído os serviços públicos ingleses.

É preciso separar os interesses sobre as Ilhas Selvagens do interesse destes selvagens na ocultação da sua deriva fascizante. Quando o primeiro-ministro, assim denominado, se permite atacar a Constituição argumentando com a falta de interesse para um milhão de desempregados de que, de algum modo, é responsável, corremos o risco de esquecer o mal que faz para o apoiarmos no elementar dever de defesa dos interesses nacionais.

Estes selvagens são maus, mas têm assessores de imagem que não são burros.

Comentários

Agostinho disse…
"Estes selvagens são maus, mas têm assessores de imagem que não são burros."
Pergunto: quem lhes paga?
O Sr. Primeiro Ministro tão desconsolado, acidulado pelo TC, a tomar Rennies para o estômago, deveria tê-lo para desprateleirar os funcionários do estado que lhe são "empecilho" e mandar às malvas a cachopada elevada a supra-sumos da batata, especialistas em engrenagens que pululam pelos gabinetes a encerar.
e-pá! disse…
Depois das evidentes e tenebrosas posturas tendentes a exorcizar o Sul (da Europa) do redil dos 'bem comportados' (do Norte) só faltava este 'entretenimento espanhol' a tentar acirrar (ressuscitar) rivalidades de índole territorial assentes sobre florentinas concepções 'nacionalistas' dominadas por 'interesses' obscuros, que alguns (se calhar 'incautos') já julgavam, no seio de um projecto de União Europeia, integrantes do acervo histórico passado.
Os povos europeus estão a sofrer demasiado para se entreterem com manobras de diversão (ainda por cima de índole 'paroquial').
A perda de soberania política e financeira, que se verifica tanto em Portugal como em Espanha, não pode (nem deve) ser substituída por escaramuças diplomáticas e duelos nacionalistas.
Carlos Luna disse…
ERA DE ESPERAR? ESPANHA CONTESTA POSSE PORTUGUESA DAS ÁGUAS DAS SELVAGENS

O Estado espanhol parece estar a iniciar um ciclo de reivindicações cujo aspeto contraditório não pode escapar a qualquer observador atento.
Na verdade, após Gibraltar, Madrid contesta a interpretação que Lisboa faz da soberania das águas que rodeiam as Ilhas Selvagens. Fá-lo... ao abrigo do Direito internacional.
Não pretendo discutir se a Espanha tem ou não razão. O que é espantoso nesta atitude é o facto de Espanha usar várias e opostas interpretações do mesmo Direito Internacional. Madrid parece não se dar conta de que está a "brincar" com coisas MUITO SÉRIAS e a despoletar indignações e a mexer num vespeiro.
Os dirigentes espanhóis não se dão conta de que, ao reivindicarem Gibraltar com base nas teses anticolonialistas das Nações Unidas, terão de aceitar a validade das reivindicações de Marrocos sobre Ceuta e Melilla.
Madrid parece não ter consciência de que agitar regras do Direito internacional (tenha ou não razão) em relação à Zona Económica Exclusiva das águas das Selvagens a faz cair numa abissal contradição, já que, em relação a Olivença, mantém uma situação de claro NÃO CUMPRIMENTO das determinações de 1814/15 e 1817, tomadas em Congressos Europeus onde esteve presente e de que foi signatária.
Alguns articulistas e comentadores, a propósito ainda e apenas dos recentes acontecimentos em Gibraltar, optaram por não referir Olivença, ou por destacar o contraste entre a posição "cautelosa e prudente" da Diplomacia portuguesa ao reivindicar esta cidade (ou vila) alentejana de forma discreta e a "fúria" despropositada da Espanha no que toca às exigências sobre o Rochedo.
O que estas notícias vêm aparentemente abrir caminha é à convicção de que Madrid não parece disposta a ouvir opiniões e razões que não sejam os seus, a fazer respeitar os tratados que lhe convêm, e que pouco lhe importam as consequências que tudo isso lhe poderá trazer. Este posicionamento pode abrir o caminho a numerosas crises e tensões, que não creio que venham a beneficiar minimamente ninguém, muito menos o Povo Espanhol.
Resta ver qual vai ser a reação em Portugal. Continuar com a cabeça mergulhada na areia?
Estremoz, 1 de Setembro de 22013
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Carlos Luna disse…
ERA DE ESPERAR? ESPANHA CONTESTA POSSE PORTUGUESA DAS ÁGUAS DAS SELVAGENS

O Estado espanhol parece estar a iniciar um ciclo de reivindicações cujo aspeto contraditório não pode escapar a qualquer observador atento.
Na verdade, após Gibraltar, Madrid contesta a interpretação que Lisboa faz da soberania das águas que rodeiam as Ilhas Selvagens. Fá-lo... ao abrigo do Direito internacional.
Não pretendo discutir se a Espanha tem ou não razão. O que é espantoso nesta atitude é o facto de Espanha usar várias e opostas interpretações do mesmo Direito Internacional. Madrid parece não se dar conta de que está a "brincar" com coisas MUITO SÉRIAS e a despoletar indignações e a mexer num vespeiro.
Os dirigentes espanhóis não se dão conta de que, ao reivindicarem Gibraltar com base nas teses anticolonialistas das Nações Unidas, terão de aceitar a validade das reivindicações de Marrocos sobre Ceuta e Melilla.
Madrid parece não ter consciência de que agitar regras do Direito internacional (tenha ou não razão) em relação à Zona Económica Exclusiva das águas das Selvagens a faz cair numa abissal contradição, já que, em relação a Olivença, mantém uma situação de claro NÃO CUMPRIMENTO das determinações de 1814/15 e 1817, tomadas em Congressos Europeus onde esteve presente e de que foi signatária.
Alguns articulistas e comentadores, a propósito ainda e apenas dos recentes acontecimentos em Gibraltar, optaram por não referir Olivença, ou por destacar o contraste entre a posição "cautelosa e prudente" da Diplomacia portuguesa ao reivindicar esta cidade (ou vila) alentejana de forma discreta e a "fúria" despropositada da Espanha no que toca às exigências sobre o Rochedo.
O que estas notícias vêm aparentemente abrir caminha é à convicção de que Madrid não parece disposta a ouvir opiniões e razões que não sejam os seus, a fazer respeitar os tratados que lhe convêm, e que pouco lhe importam as consequências que tudo isso lhe poderá trazer. Este posicionamento pode abrir o caminho a numerosas crises e tensões, que não creio que venham a beneficiar minimamente ninguém, muito menos o Povo Espanhol.
Resta ver qual vai ser a reação em Portugal. Continuar com a cabeça mergulhada na areia?
Estremoz, 1 de Setembro de 22013
Carlos Eduardo da Cruz Luna

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