Avisos à navegação e/ou o anúncio de nova ‘crise’?
O discurso político, embora contaminado pela circunstância de estar em curso uma campanha eleitoral, volta a revelar indícios de ‘tempestade’ quando é observado à luz de um atento e criterioso crivo de valores e princípios democráticos fundamentais.
As recentes declarações de Passos Coelho na campanha autárquica do PSD (Malveira, Mafra) link são preocupantes e, pela enésima vez, indiciam o ‘desastre’ eminente.
São, desde logo, mais um recado (dirigido para o interior da coligação e eventualmente para o PR) sobre uma ‘crise política’, em franca incubação, decorrente da ‘instabilidade’ interna do Governo. O primeiro-ministro (ou o presidente do PSD) na vã tentativa de tentar desesperadamente evitar consequências políticas mais não consegue camuflá-la. Na verdade, só consegue aprofundá-la.
Passos Coelho, aparece no terreiro político a explicitar um ‘novo’ conceito sobre o exercício das suas funções governativas que, acumulando fracassos atrás de fracassos, pretendendo ‘demonstrar’ que a solução desta esgotante crise é incompatível (ou inconciliável) com a clarificação da situação política, e a obrigatoriedade de nova consulta popular, invocando dois espúrios motivos:
a) Os mercados não querem eleições e ponto final (será que as autorizarão em 2015?);
b) Convenceu-se que, em Junho 2011, os portugueses terão ido às urnas, não para escolher partidos que governassem Portugal numa situação de confronto com uma grave crise económica e sobretudo financeira mas sim para plebiscitar um ‘caudilho’ que estaria incumbido (pelos mercados?) de ‘implantar’ uma nova ordem política, económica e social.
Estas declarações sugerem um novo estilo de ‘caudilhismo’ (sem a componente militar mas associado a um intenso arsenal mercantilista) que em matéria 'organicista' se inspira nos movimentos que assolaram a América Latina no séc. XIX sob a forma de lutas de libertação colonial (ou pela independência nacional) e, mais tarde, numa forma pervertida por uma sangrenta ditadura fustigou a Espanha em meados do séc. XX . Seria, neste contexto, um musculado 'modelo hispânico de neo-liberalismo'.
De facto, nas últimas eleições legislativas, ao contrário da mensagem que a ‘maioria governamental’ está a querer ‘passar’, não foi submetido a escrutínio – nem poderia ser – qualquer questão (próxima ou remota) acerca do regime.
Regressando à actualidade, entramos num período em que a estabilidade política perdeu sentido político para dar lugar à urgente necessidade de clarificação. Falta o Governo entender esta evidência para possibilitar que o País opte - face ao conhecimento concreto da realidade e de confrontado com todas as opções políticas e ideológicas alternativas - o que está disposto a assumir e a rejeitar. Ninguém aceita uma exponencial ‘espiral de sacrifícios’ só porque os seus executores estão convictos dessa ‘necessidade’ (ideológica e política).
Esta é uma realidade cada vez mais incontornável e ao que parece, os denominados e invisíveis credores, ou os seus lídimos 'representantes' ou ‘notificadores’, já deram mostras de o ter entendido, começando por ameaçar e estabilidade do sistema bancário nacional e levantando a lebre sobre um "ressurgimento de tensões políticas" link… O 'alerta' não podia ser mais explícito.
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