A desmemória e a dissimulação

Não sou nem acredito em independentes. Dependo das minhas convicções e da minha visão do mundo, das simpatias e das animosidades que vou criando, da minha natureza e das suas circunstâncias.

Mitigo a solidez das convicções com a dúvida metódica e a possibilidade de as posições contrárias serem igualmente válidas. E nunca, mas nunca, desfiz uma amizade por mais divergentes que sejam as convicções, ou deixei de defender a democracia política.

Dito isto, não posso deixar de lembrar aos amigos que ainda apoiam a oposição ao atual Governo, e que são cada vez menos, não os amigos, mas os apoiantes de Passos Coelho e Assunção Cristas, algumas verdades que lhes doem e demónios que não exorcizaram.

Esta direita que vive de comentadores comprometidos, anónimos que pululam nas redes sociais e pessoas desmemoriadas, nunca fez a autocrítica da participação no único crime internacional, depois da implantação do regime democrático, na invasão do Iraque.

Esta direita que nunca teve uma palavra contra a invenção das escutas por Cavaco Silva, contra a patética e antidemocrática tentativa de a manter no poder ao arrepio da AR, é a mesma que não se sentiu desgostosa com o negócio de ações não cotadas da SLN/BPN pelo pior PR da democracia, que não quis saber em que circunstâncias adquiriu a Casa da Coelha ou quais as relações com o bando do BPN e com o facto de a sua candidatura a PR ter sido urdida em casa de Ricardo Salgado.

Esta direita é a que não se recorda da falência da Tecnoforma onde Pedro Passos Coelho aprendeu a gerir o País, da falência da empresa de sondagens Amostra, da Universidade Moderna, onde o seu diretor, Paulo Portas, fugia ao fisco e se atolou num escândalo que acabou abafado.

Esta direita necrófaga, que explora os cadáveres da nossa desolação e remorso é a que nunca pediu a cabeça do soba da Madeira, um offshore da ética democrática, quando os incêndios ou as cheias devastaram a ilha e mereceram a solidariedade nacional.

Esta direita é cada vez mais a herdeira de um salazarismo serôdio, incapaz de denunciar a guerra colonial, as prisões arbitrárias, a censura, as torturas, a Pide, e ainda saudosa do “nosso Ultramar infelizmente perdido”.

Passos Coelho e Assunção Cristas são rostos do Portugal bafiento e concentracionário que imolou em África 7481 jovens e trouxe 1852 amputados e 220 paraplégicos. Incapazes de criar soluções, só têm para dar o ódio e o ressentimento sem coragem de apresentarem uma moção de censura na Assembleia da República.


Não quero que esta direita volte a ser Governo.

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